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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Leviandade

Uma noticia publicada hoije no facebook dá conta que:

Michel Rolland, considerado o maior enólogo e consultor de vinho do planeta, durante uma palestra na INSEEC, a business school de Bordeaux, fez uma declaração que deixou todos os estudantes na sala (e os enófilos do mundo) sem palavras.

“O vinho do futuro deverá se adaptar ao gosto dos clientes, que nem Coca-Cola”.

O enólogo de reputação controversa por colocar o aspecto tecnológico antes de tudo em produção de vinho, alegou que o terroir será importante somente para os grandes vinhos, mas para todo o resto da produção vai valer somente marketing e tecnologia.

E deu como exemplo a Coca-Cola que adapta o sabor do próprio refrigerante conforme ao gosto do mercado local: por exemplo, no norte dos EUA ela vem com marcadas nuances de canela, pois o povo de lá gosta, assim como na Índia tem leves toques de especiarias, já na Europa é mais fresca e leve.

Então, argumenta o Rolland, se os indianos gostam de curry, eles vão ter um vinho com sabor de curry.

Michel Rolland acha que isto acontecerá até o ano 2050.


MEUS COMENTÁRIOS A RESPEITO:


Esta é a maior barbaridade que ouvi em todos meus longos anos de enologia.

Na verdade nem deveria me surpreender saindo da boca do “Consultor da Multidões”, do enólogo que milagrosamente (na verdade aplicando sua infalível formula quimica-enologica de fazer vinhos) consegue fazer vinhos-coca-cola em todos os lugares do mundo, inclusive no Brasil onde lamentavelmente achou uma empresa que talvez corresponda ao perfil descrito: marketing + tecnologia).

O Sr. Michel Rolland se equivoca ou mente porque:

- Ignora o fato que o consumidor de vinhos é progressivo, ou seja, aprende, educa seu paladar constantemente. A cada ano exigira mais qualidade e menos produtos mascarados, manuseados, manipulados, como os que ele elabora. Por tanto, é ele que se dará mal e por isso tenta dar credibilidade aos vinhos-coca-cola.

- Se isso não fosse suficiente, o consumidort não é estúpido, sabe diferenciar refrigerante ou bebida fabricada de vinho, produto elaborado.

- Ao fazer este tipo de declaração, com sua credibilidade ganha graças e enorme generosidade do mercado de vinhos mundial que acolhe todo tipo de personagem, convencerá muitas pessoas desavisadas que isto acontecerá até 2050 e outros mais desavisados e ingenuos ainda, acreditarão que isto já está acontecendo.

- O Sr. Michel Rolland, ao tentar disociar da terra, do clima, da uva e da ação do homem os vinhos honestos, simples, verdadeiros sem necessariamente serem “grandes”, presta um enorme deserviço a toda a cadeia produtiva que tanto se dedica, se esforça e luta. Como se não bastassem o selo fiscal, a salvaguarda, etc.

Como enologo fico indignado e também envergonhado. Repudio enfáticamente as declarações infelizes deste personagem tão idolatrado por algúns. Já existiam enologos, enófilos e enochatos.

Agora surge uma nova figura: o enoleviano.

6 comentários:

Flavio Vinho Bão disse...

Caro Sr. Adolfo,
Apoio inteiramente suas palavras. No entanto, fico receoso que, infelizmente, muitas pessoas possam apoiar as palavras do onipresente Rolland.
Abraços,
Flavio

Adolfo Lona disse...

Meu caro Flavio: Sei que isso vai acontecer por isso minha enfática declaração de repúdio procurando pessoas como você que não se conformam com as tentativas de banalizar a cultura da uva e do vinho. Este senhor se equivoca ao pensar que os consumidores são estúpidos e não sabem diferenciar um vinho simples e honesto de um "fabricado" direccionado ao novo consumidor que ainda não está educado. Esquece que com o tempo o será e a verdade virá. Abraço - Adolfo

Unknown disse...

Lona!
Seguinte... há alguns anos atrás, muitos na verdade, ouvi em um evento da Embrapa a seguinte frase, proferida pelo Sr. Adolfo Lona: "Qual é o melhor vinho? R: Aquele que você gosta!"
No raciocínio que segue, está implícito que no papel do enólogo incluí-se o de educar e orientar o consumidor esclarecendo-o. Comecei minha história na enologia em 1992, com o Prof. Carlos Eugênio Daudt; quando a vinícola do "marketing-enologia" anunciou que contrataria o sr. Michel Roland, disse para mim e para pessoas próximas: "Para que? Para que ele diga o que eu sei a mais de 10 anos, e muita gente também?"
Pois bem, o sr Michel disse e fez o que se sabe e a vinícola, até onde sei, só fez marketing. O sr Michel, opinião minha, é bom para "as negas dele". De resto, e a cada vez mais, presta desserviços a enologia.
Cordial, e fraterno, abraço.

Adolfo Lona disse...

Caro James: É isso amigo. Como o peixe morre pela boca, com o tempo este senhor ficará reconhecido como um grande charlatão, o que verdadeiramente é. Pena que ainda haja gente que paga pela sua desassessoria. Abraço

Antônio Matoso Filho disse...

Caro Lona,
Em uma aula que proferi há pouco no Curso Avançado da ABS-Brasília, aboradando o assunto "estilos de vinhos" comentava exatamente isso: que no intuito de se agradar à maioria genérica dos públicos, o vinho perde sua maior riqueza que é a sua personalidade (individualidade). Daí que os neófitos do vinho embarcam imediatamente no tipo de vinho "fácil de beber, estilo 'novo mundo'", e daqui a pouco tanto faz beber um argentino ou australiano ou californiano que será muito parecido. Não duvido que nesse ritmo, os vinhos mais vendidos no mundo virão da China, como a maioria das marcas de produtos em série, de hoje, que vão para o custo mais barato de produção lá. Vai colar? Para os ignorantes, iniciantes, estudantes e desavisados que não se permitem consumir algo que não seja "o mais barato"!

Porém, com alguns poucos anos de conhecimento do publico, logo esses vinhos serão descartados, pela falta de personalidade, pela mesmice, pela padronização coletiva (algo como "Blossom Hill", bem padronizado e os respectivos sanduíches que norte-americanos adoram!) e pela opinião de quem conhece, que graças a Deus, ainda influencia bastante o público que se inicia no mundo do vinho. Mas, o público já conhecedor e consumidor habitual de vinhos - e cada vez tem mais - vai repudiar e esses enlatados rollandianos sumirão rápido do mercado.

Fato similar já está ocorrendo no Brasíl: os chilenos que mais parecem xaropes de madeira estão sendo preteridos, após 10 anos de regozijo dentre os iniciantes daqui.

abração
E VAMOS SEGUIR NA LUTA CONTRA A ROLLANDIZAÇÃO E PARKERIZAÇÃO DOS VINHOS

Adolfo Lona disse...

Prezado Antonio: O comportamento do consumidor irá mudar para melhor na medida em que todos nós, cada um da sua forma, o ajudarmos para achar "a verdade". Por isso meu amigo, temos um longo trabalho pela frente. Não vamos desistir!!! Abraço