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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Sempre agradável



Independentemente de classe social, religião, sexo ou faixa etária, todas as pessoas associam o espumante a momentos alegres, de festejo, em família.

Quem não lembra do último Natal, do aniversário recente, do encontro de amigos celebrado junto a uma borbulhante taça de espumante? A pessoa que decide saborear esta maravilhosa bebida o faz num estado de espirito especial, leve, feliz.

Toda esta carga de subjetividade é um alerta para quem produz já que esta expectativa não pode ser “quebrada” com aromas fortes e sabores chocantes. O espumante tem “de agradar” independentemente do tipo nature, brut ou doce.
Sempre afirmo que quem produz um espumante de qualidade não vende bebida alcóolica, vende momentos, prazer, sofisticação.

Um dos componentes principais do espumante é a acidez que dá frescor, ligeireza, intensidade de sabor, compondo um conjunto agradável com os açúcares quando ambos estão em equilíbrio, atuando em parceria, com cumplicidade.

O espumante natural de Champagne que nasceu por acaso e foi desenvolvido desde o século XVII, teve seu primeiro tipo brut somente em meados do século XIX por teimosia e coragem de Mme. Pommery. Todos achavam que seria horrível por conta da alta acidez dos vinhos dessa região, escondida até essa época pelos altos teores de açúcares colocados nos produtos. E foi tão bem sucedida que o consumo de brut é até hoje infinitamente superior aos mais doces.

A legislação mundial determina que os teores de açúcares dos espumantes naturais devem ser:

Nature: até 3 gramas de açúcares por litro
Extra-brut: até 6 gramas
Brut: de 6,1 a 15 gramas
Seco: de 15,1 a 20 gramas
Demi-sec: de 20,1 a 60 gramas
Doce: superior a 60 gramas.

O açúcar “esconde” a acidez e por isso o espumante mais desafiador, porque exige equilíbrio exato da acidez, é o nature que não tem essa ferramenta. Algumas pessoas ficam temerosas ao serem desafiadas a saborear um nature, acham que será agressivo, excessivamente ácido, desconfortável. Assim seria num espumante elaborado com falta de critério e que não considera os conceitos detalhados no inicio deste artigo. O nature exige um vinho base elaborado de tal forma que mantenha a acidez marcante sem passar dos limites do agradável.

O tipo brut tem uma faixa bastante elástica que vai de 6 a 15 gramas, o que justifica encontrar, conforme o produtor, brut mais secos e outros “non tropo”.

Os tipo demi e doce são os que permitem utilizar vinhos não tão perfeitos porque o açúcar marcante serve como um cobertor, de virtudes e de defeitos.

Tenho imenso orgulho de meus espumantes mas dois são os que me deixam mais satisfeito: o nature e o rosé nature ORUS porque graças ao uso de vinhos de outras variedades como Merlot e à mistura de parcelas com e sem malolática conseguimos produtos com aromas intensos e complexos e sabores amáveis, longos e marcantes.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Medo de que?

A Serra Gaúcha é uma região vitivinícola singular, única.

Seu perfil produtivo, sua geografia sinuosa, seus habitantes com o sotaque arrastado, seus costumes, cânticos e gastronomia formam parte do maior patrimônio cultural do Rio Grande do Sul. Não há igual na América do Sul.

A Serra se destaca pela excelente distribuição de renda, uma das melhores do país, graças ao perfil minifundiário das propriedades vitícolas. Na região, mais de 15.000 famílias vivem da uva e do vinho, quase todas de descendência europeia, do norte da Itália. As cabeças virtuosas acham que o pequeno produtor é digno de pena, precisa ser protegido, conduzido, “comandado”. A realidade é que se trata de um empresário dono de seu negocio, de seu nariz, de seus erros e acertos. E podem ter certeza que os acertos são maioria.

A vitivinicultura de uma região é feita, se constrói pelas mãos calejadas do pequeno produtor.
Ele tem a vitivinicultura no sangue, herança de seus antepassados, no DNA.
Ele não vê a uva e o vinho como um negócio, que precisa ter retorno, que deve ser depreciado, que tira o sono.
Ele faz tudo por amor, com paixão, sem medir esforços. E essa paixão é percebida no olhar, nas palavras, nos gestos.
Ele, ao receber pessoalmente o visitante em sua pequena cantina, com simpatia e receptividade, faz muito bem para a imagem da região, faz muito bem ao vinho brasileiro.

Um tempo atrás participei de uma inútil reunião para discutir a estupidez da implantação do selo fiscal com um gênio da CONAB, numa pequena cantina. A reunião transcorreu no meio das pipas de madeira e me lembrei das velhas épocas da De Lantier. Ao final da reunião descobri que a cantina era da família Cristofoli, dos descendentes do saudoso Duilio, produtor de uvas com o qual tive o privilegio de conviver nas décadas de setenta, oitenta e noventa. Duilio era uma pessoa que iluminava nossa cantina quando chegava cantando, contando causos e piadas, sempre alegre. O corpo forte como um touro escondia um coração enorme e uma pureza própria do homem de campo simples e direto. Descobri nesse dia que sua neta Bruna, formada em enologia, tinha assumido a missão de dar continuidade ao legado do vô, agora fazendo vinhos de seus vinhedos, de boa qualidade, preservando o nome com dignidade.
Este exemplo se aplica a outros produtores como Zanini, Anghebem, Carraro, Brandelli e centenas mais que desiludidos do modelo de manter vinhedos para fornecer suas uvas às grandes cantinas, iniciaram a carreira solo. A saída das grandes empresas multinacionais, que muito fizeram para construir a região, que parecia presságio de um negro futuro, estimulou que muitos viticultores completassem a cadeia produtiva elaborando seus vinhos e colocando-os no mercado. Estas pequenas cantinas constituem o futuro da região, são as que agregam valor, por isso devem ser apoiadas, valorizadas, destacadas.

A criação do Vale dos Vinhedos criou uma ferramenta fantástica de subsistência destas vinícolas e de valorização do produto nacional. Este exemplo que está sendo seguido por outras regiões ajudará a acelerar o fortalecimento da imagem de nossos produtos. Se algumas lideranças não reconhecem estas ações como o caminho lento a ser seguido, pelo menos que não atrapalhem criando selos e tomando medidas aparentemente em defesa do setor mas contrárias aos interesses dos consumidores.

Argentina e Chile, países produtores que invadem o mercado com um volume importante de vinhos baratos de qualidade duvidosa, não possuem uma estrutura produtiva com tanta carga de tradição e cultura.

Então, medo de que?

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Vai nessa?


Se você é daqueles que acha que entender de vinhos é uma condição moderna para ter destaque social, colaboro com algumas dicas:

1. Treine até conseguir pronunciar sem se engasgar o nome de algumas variedades como Müller Thurgau (pronuncie miler turgó) e Pinotage e se alguém fica de boa aberta afirme com convicção: ”São híbridas interespecíficas ou seja, cruzamento de variedades da mesma espécie”

Se alguém fizer mais perguntas peça licença e vai para o banheiro rápido.

2. Diga, sem falar alto porque pessoas com classe falam baixo, que “No último telefonema que tive com Paul, ele comentou que a safra em Margaux não seria das melhores”. Alguém próximo, intrigado perguntará: “Que Paul?” Bola na área é para fazer gol. “Meu amigo Paul Pontallier, diretor técnico do Château-Margaux que conheço desde 1992”.

Se alguém fizer mais perguntas peça licença e vai para a sacada tomar ar.

3. Ao receber uma taça de espumante, sinta os aromas sem agitar a taça e diga: “Sem sombra de dúvida as leveduras cumpriram sua magnífica missão “post mortem” ao liberar os aminoácidos responsáveis pela complexidade e elegância deste espumante”.

É importante manter-se sério porque se rir vai tirar credibilidade.

Agora se você é daqueles que bebe vinhos e espumantes por prazer, sem ficar preocupado em impressionar, desfrute, saboreie sem falar ou falando com o vinho.