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terça-feira, 30 de junho de 2015

O consumidor progressivo


Sempre afirmei que toda pessoa interessada por vinhos é um consumidor progressivo porque aprende, se aprimora, educa seu paladar a cada gole. E este é o perfil do apreciador brasileiro.

A evolução dos tipos de vinhos consumidos no Brasil nas últimas décadas é uma prova disto.
Nos anos sessenta predominavam os rosados e brancos suaves, ligeiramente adocicados, que constituíam o caminho intermediário entre um guaraná e um Cabernet. Foram repudiados e duramente criticados mas cumpriram a missão de introduzir os novos consumidores que chegavam. Os tintos eram ignorados.

Alguns anos depois chegaram atropelando os brancos da garrafa azul, dozinhos, sedutores, com nomes germânicos quase ininteligíveis. O bom da embalagem era que após esvaziada servia para fazer elegantes abajures.
Mais uma ajudinha para introduzir novos consumidores.

Parecia tudo perdido. O brasileiro era um ignorante inveterado. Mas os anos demonstraram o contrário.

Passaram os rosados, passaram os brancos suaves, passaram os proseccos medíocres, passaram os mums, os gatos e os santas del Plata que eram quase indigestos, passaram os tintos carregados de madeira e o mercado tornou-se mais exigente, mas seletivo, mais consciente do que bebe.
Podem ter certeza que esta evolução continuará para sempre.
Enquanto houver consumidores o processo continuará até porque quem para, regride.

E isto não deveria ser ignorado, em especial pelos produtores de vinhos e espumantes que são obrigados a acompanhar esta evolução para não correrem o risco de serem devorados pelo mercado.

Hoje é mais ignorante o que se “acha o tal” que o humilde curioso que busca sempre novidades, novas experiências de qualquer origem. Hoje é ignorante quem quer.

A oferta é imensa em todos os sentidos, brancos, tintos, rosados e espumantes de todas as regiões produtoras do mundo, das mais tradicionais às novas. Dos preços então, nem se fala. Há para todos os gostos e bolsos.

Assim como é farta a oferta de produtos é farta a oferta de informações através de blogs genéricos ou específicos, de colunas em jornais e revistas e de artigos publicados na internet. Já não é necessário buscar dados em livros especializados sempre difíceis de encontrar.
Basta entrar na internet.

Por todas estas razões é que fico ainda admirado quando vejo pessoas insistindo em afirmar que o brasileiro não entende nada de vinhos, que é ignorante, que bebe rótulos. E também por estas razões fico ainda mais admirado quando vejo que tem gente que acredita nisso.