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domingo, 31 de julho de 2011

O frio que falta


João Veloso, seguidor deste blog me fez uma indagação a respeito do artigo “O frio que é bom”. Pergunta: “Eu gostaria de saber a sua opinião sobre a vitivinicultura do nordeste brasileiro. Lá não existe esta amplitude térmica tão benéfica para a planta. Isso me deixa muito intrigado”.
A videira é uma planta extremamente sensível ás condições térmicas reagindo rapidamente na forma de frondosidade quando submetida a temperaturas constantes e altas e devidamente hidratada, e na forma de repouso quando submetida ao frio constante.
Também é uma planta extremamente sensível às exigências as quais é exposta: durante o ciclo vegetativo (brotação, floração, fecundação, formação do grão e maturação) dirige todas suas forças para o cumprimento total deste ciclo. Quanto menos exigida, melhor cumpre suas funções.
O período de repouso longo e constante é fundamental para acumular reservas que vão ser utilizadas na fase vegetativa. Com o clima do nordeste de temperaturas médias situadas nos 25-26º C e pouquíssima variação térmica, a planta é exigida constantemente pela vegetação que precisa ser alimentada. A amplitude térmica, dias quentes com ciclo andando forte, e noites frias durante as quais a planta “descansa”, ajuda a que todas as fase sejam realizadas completamente, em especial a maturação. A maturação das uvas tintas não se resume ao aumento dos teores de açúcares. A formação dos componentes da cor e a maturação dos taninos que são os responsáveis pelo “esqueleto” do vinho, são condições fundamentais nas uvas destinadas a vinhos tintos robustos, aveludados e aptos para desafiar o tempo.
Com o excesso de temperaturas altas e constantes e a falta de amplitude a planta fica estressada, sem forças, e não consegue a formação dos citados componentes. O descanso é induzido através do corte da irrigação mais é curto e insuficiente já que são feita duas safras ao ano.
Com isto as uvas tintas são carentes de pigmentos e os vinhos fracos de cor. Por esta razão lá se utilizam muito uvas como Alicante Bouchet que não tem potencial para grandes vinhos mais que são “ “tintórias” ou seja, que tem cor no suco. Isto condena os vinhos do nordeste? Absolutamente não, porque é possível elaborar bons vinhos frescos, ligeiros e de pouca carga tânica, ideais para serem consumidos a toda hora. São vinhos mais perenes que devem ser consumidos mais rapidamente.
Pretender produzir vinhos da uvas como Cabernet Sauvignon ao estilo clássico não parece o mais recomendável.

sábado, 30 de julho de 2011

As Medalhas


Freqüentemente sou questionado da validade dos Concursos internacionais de Vinhos e invariavelmente digo que se medalha fosse sinônimo de qualidade, Château Margaux, Petrus, Chandon e Veuve Clicquot, por citar alguns exemplos, não teriam lugar onde colocar tantas.
Medalha ganha em Concurso é uma referência não sempre confiável e por isso deve ser utilizada moderadamente no marketing das empresas.
Referência não sempre confiável porque os Concursos compõem geralmente seu corpo de jurados por convidados representativos da região onde é feito o evento e de outras regiões do país ou fora dele. Ultimamente foram incorporados a este corpo convidados especiais como jornalistas, enófilos e pessoas famosas. Se para os profissionais é difícil avaliar dando notas, imaginem a dificuldade dos não profissionais. Evitar que a subjetividade tome conta antepondo o gosto pessoal às verdadeiras qualidades e defeitos do produto em análise não é tarefa fácil. Quem gosta de vinhos envelhecidos terá predisposição para avaliar melhor estes vinhos em detrimento dos vinhos jovens e frescos. Quem gosta de carvalho será também influenciado por este gosto. Imaginando um concurso com grande participação de vinhos de diferentes países, elaborados com uvas diversas, em solos e clima específicos fica difícil julgar sendo “justo”. Já participei de concursos e presenciei o total despreparo de alguns jurados que para não correrem maiores riscos mantêm suas notas numa média nada comprometedora, entre 75 e 85 pontos. Se a média da mesa é 90 pontos, será o jurado mais rigoroso, se for 70, o mais generoso.
Outro fator complicador é o insano número de amostras degustadas por sessão, às vezes superiores a trinta, quarenta vinhos. Todos sabem da capacidade de saturação que nossos sentidos tem, em especial o olfato e o gosto. Os enólogos chegamos a degustar 30 ou 40 amostras alguns dias, mais em avaliações simples de cantina, onde se procuram defeitos que o vinho não deve ter quando bem conservado.
Existem além dos concursos, as avaliações de especialistas, estas sim com menos credibilidade ainda. Salvo Robert Parker, o famosíssimo degustador de dezenas de milhares de vinhos anualmente, não devemos levar a sério as avaliações individuais já que são a clara demonstração o que é subjetividade. Até as opiniões de Parker, que já consagrou e condenou alguns vinhos nestas décadas, estão perdendo valor junto ao consumidor. Todos começam a entender que apesar de ser um homem extremamente capaz, trata-se de sua opinião, pessoal e única.
Acho que todos os que participamos da vitivinicultura temos de contribuir para a formação dos consumidores, entendendo duas verdades absolutas: é um consumidor progressivo, ou seja, se aprimora com o hábito do consumo diário, e tem idêntica capacidade de sentir que o maior dos especialistas. Não tentemos enganar-lo com notas altas ou medalhas reluzentes porque a verdade está no copo. Não insistamos em disser que tipo de vinho ele deve gostar. Demos ferramentas para que entenda as razões pelas quais ele gosta de um determinado vinho. Estaremos ajudando a cultura da uva e do vinho porque consumidores rigorosos estimulam a concorrência focada em qualidade.

domingo, 3 de julho de 2011

Curso de espumantes

Faremos outro curso sobre O MUNDO DOS ESPUMANTES no sábado 20 de agosto em nossa produtora em Garibaldi.
Degustaremos às cegas (com grandes surpresas) espumantes importados como champagne Veuve Clicquot e Cava Freixenet e nacionais Prosecco, Moscatel Espumante e os clássicos Demi, Brut e Nature.
Peça mais informações pelo fone (054) 3462.4014 ou pelo e-mail vinhos@adolfolona.com.br.
PARTICIPE, APRENDA E DIVIRTA-SE!!!

Assemblage e varietal



O termo francês “assemblage”, que significa mistura, se utiliza para identificar o produto que resulta do corte de vinhos de diferentes uvas. Os mais representativos são os vinhos da região de Bordeaux que mesclam magistralmente Cabernet Sauvignon, Merlot, Petite Verdot, Cabernet Franc e Malbec em proporções variáveis mais sempre surpreendentes. Um exemplo disso é o maravilhoso Château Margaux composto de predominância de Cabernet Sauvignon com partes menores de Petite Verdot, Malbec e Merlot.
Infelizmente no Brasil este termo perdeu prestigio e confiança dos consumidores pela sobrevalorização do conceito de vinho varietal e pela falta de regras. Varietal, conforme a Lei Brasileira de Vinhos é um vinho que pode ser identificado com o nome da variedade no rótulo desde que esta esteja presente em pelo menos 75% do total da composição final.
Com a instabilidade de nosso clima a qualidade da uva fica muito vulnerável por conta das chuvas afetando de forma diferente uma ou outra variedade conforme o ciclo de maturação.
As uvas citadas acima maturam em períodos diferentes e por isso, conforme o momento das chuvas podem ser mais ou menos prejudicas. Utilizar o critério da mistura sem a necessidade de ter pelo menos 75% de uma delas permite, alem da maior garantia de estabilidade da qualidade, a obtenção de vinhos mais surpreendentes e marcantes.
Tomara que sejam produzidos bons vinhos de assemblage e o conceito recupere seu merecido prestigio.

O frio que é bom


Em países como o Brasil onde o hábito de beber vinhos não existe, o frio estimula o consumo, em especial dos tintos. Quem não disse já “esse frio é ideal para beber um vinho”?
Mais o frio, apesar de estar bem distante da época de maturação, também é um aliado da boa qualidade das uvas. Com a temperatura baixa a parreira entra em “repouso” e permanece nele até o inicio da elevação da mesma. Quanto mais longo e mais constante o inverno, melhor para a planta que acumula reservas durante essa fase, via alimentação pelas raízes. A parte aérea, salvo a copa ou tronco, se seca e por tal razão não sofre com o frio. Agrônomos e enólogos vibram duplamente com o frio, pelos benefícios que outorga à planta e pelo aumento de consumo.