Total de visualizações de página

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Agora é decantado


Mais uma novidade da arte de assassinar espumantes nos chega da Europa e ganha adeptos e defensores no Brasil: a decantação e arejamento antes de saborear-lo.
Depois da moda das pedras de gelo e das frutas, a criatividade parece não descansar.

Vejam as instruções ( e suas fundamentações) para quem quiser arriscar:
1. Utilize um decanter de pescoço longo, bojo estreito e nele verta o precioso líquido com cuidado.
2. Nesta operação o espumante perde 15 a 20% do perlage (gás carbônico dissolvido?) que não deve ser levado em conta porque proporcionará aromas que dificilmente aparecem quando o espumante é servido da forma tradicional.
3. Manter o espumante por 30 minutos e depois servi-lo em copo para vinho branco (é isso que ele é agora).

Vamos explicar as razões pelas quais esta sugestão está fundamentada em premissas falsas:
O gás carbônico tem a função, alem do cativante movimento, de levar os aromas até a boca da taça. Os óleos essenciais que constituem estes aromas se grudam nas borbulhas que se desprendem da superfície do espumante e “viajam” até a boca. Por esta razão, ao contrario do vinho que se beneficia com a oxigenação proporcionada pelo movimento rotatório do copo, a taça de espumante não se agita, se mantêm em repouso. Disser que desta forma os aromas passam a ser prioritários e não mais o gás carbônico é misturar causa e efeito.
Algumas perguntas se repetem:

- Para que nós produtores aguardamos demoradamente mais de um ano para que o gás carbônico gerado naturalmente se dissolva total e lentamente no líquido?
- Estas bobagens que parecem proliferar neste ano obedecem a intenções mercadológicas?
- A intenção é popularizar, desmistificar, quebrar paradigmas, tabus?
Como disse inúmeras vezes e volto a repetir: o mundo do vinho é tão basto que acolhe com extrema e imerecida generosidade todo “banana” que deseja ter seu dia de gloria, de grande enólogo.

Que o tempo faça com que os consumidores aprendam e raciocinem sobre o que gostam e o por que. Que percam o medo de errar para acertar, sem influencias externas, sem conselheiros, sem “personal wine”, sem guias, sem rankings. Desta forma Robert Parker, seus súbditos e seus imitadores terão de cuidar de outras coisas.

4 comentários:

Camila H. Coletti disse...

Decantar um espumante a meu ver é um absurdo, depois de todo o cuidado para não estragar o vinho, preservar o gás durante a abertura, agora entram com esta novidade...não concordo e não vejo qualquer razão para isto, Me parece modismo que irá pegar apenas entre os de perfil "seguidor'...que eles sigam para outras freguesias...rs...

Opara disse...

Mábio Dutra- Opara Sabores da Terra

Da mesma forma que acho bobagem usar decanter em vinhos jovens. Ou inventar mil saca-rolhas, taças das mais variadas formas para os mesmos tipos de vinho. Nas oficinas de degustação que ministramos sempre percebemos que a linguagem que aproxima o consumidor é aquela que simplifica a relação dele com o vinho. Não o contrário.

Adolfo Lona disse...

Meus caros Camila e Mábio:
Totalmente de acordo com vocês.
Infelizmente o mundo da uva e do vinho, do qual tanto gostamos, facilita tanta bobagem.
Façamos nossa parte através de um trabalho sério e constante com o qual certamente contagiaremos as pessoas de boa cabeça.
Grande abraço

ewerton luiz disse...

Também não entendo estas tolices que aparecem de vez em quando, o que querem beber afinal?

Também não gostam de garrafas "estilosas", são coisas do mundo das aparências além de querer "mostrar" que entende isso ou aquilo.

É um pessoal que merece, quanto muito, beber água mineral.

Evian?