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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Sim, podemos

Degustar o Baron de Lantier Pinot Noir 1991 em São Paulo na companhia de amigos apreciadores de bons vinhos foi uma imensa alegria principalmente ao constatar que ele estava perfeito, com justa evolução, elegante apesar de sua mediana estrutura, macio, perfeito. Isto apesar dos 21 anos que enfrentou com valentia.

Nesta degustação também avaliamos a evolução de diferentes safras do Baron de Lantier Cabernet Sauvignon, de 1985 até 1999 quando comprovamos que estes também se mantiveram em excelentes condições.

Ao final desta inesquecível experiência, meu amigo Beto Duarte, um dos responsáveis pela organização, me questionou se era possível nos dia atuais elaborar vinhos longevos, que desafiam o tempo...e ganham dele. Contestei que sim, que é possível, que apesar do conceito equivocado que alguns formadores de opinião têm, no Rio Grande do Sul e na Serra Gaúcha se podem elaborar vinhos tintos fantásticos, dignos. Basta não buscar condições que não existem nem características que não são nossas.

Vou explicar.

Graduação alcoólica: Todos os vinhos Baron de Lantier tinham graduação alcoólica máxima de 12% e a maioria entre 11,5 e 12%. Por quê? Porque a uva dificilmente atinge um grau de maturação que permita superar estes porcentagens. Todo mundo sabe da existência de vinhos famosíssimos de excepcional qualidade que possuem graduação alcoólica nestes níveis.

Infelizmente a parkerização dos vinhos e a influencia de alguns famosos “consultores” provocaram uma nefasta padronização dos vinhos, aprovada pelo mercado, direcionada à alta graduação alcoólica, muita madeira e pouca substância.
Algumas cantinas precisando participar desse mercado, num primeiro momento lançaram alguns vinhos com este estilo, exageradamente chaptalizados para ganhar graduação, maderizados rapidamente e submetidos a micro oxigenação induzida.
O resultado? Vinhos ao estilo da moda mas distante do estilo próprio da região.

As uvas utilizadas na elaboração do Baron provinham de produtores selecionados e controlados, com produtividade adequada á finalidade, que utilizavam as práticas sugeridas pelos agrônomos da cantina. Chegavam à cantina sadias, com potencial alcoólico justo e com alta carga de componentes da cor.

O critério era simples: o vinho é resultante da matéria prima utilizada que por sua vez corresponde às condições do terroir. Nada mais que isto.

Vinificação: Maceração tradicional com controle dos componentes retirados. Este controle permite definir o momento do descube ou separação das cascas.

Uso da madeira: Na maturação em barrica de carvalho por períodos controlados, que variam a cada ano, o vinho tinto sofre a transformação de seus taninos que ganham maciez, elegância, potencia por conta da polimerização dos mesmos. O controle permite acompanhar esta evolução no momento certo impedindo o excesso de madeira que toma conta, esconde, invade.
O uso de chips é um atentado às boas técnicas. Não cumpre o papel de polimerização dos taninos e satura o vinho de gosto e aromas da madeira.

Estou convencido que as vinícolas da Serra Gaúcha pouco intervencionistas, que procuram traduzir o potencial de suas uvas e que não correm contra o tempo, como Angheben, Vallontano, Pizzato para citar algumas, estão produzindo vinhos que surpreenderão nas próximas décadas assim como o Baron de Lantier surpreendeu.

Tenho certeza que o tempo me dará a razão, basta aguarda-los.

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