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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Mendoza - parte 2


De alma leve pelo descanso de um dia inteiro, muitos passeios, boa comida e devidamente introduzidos no mundo dos vinhos argentinos, começamos a segunda parte de nossa viagem na madrugada (4 da manhã) do dia 22 de dezembro. Para quem pensa que nossos horários de partida eram pelo menos estranhos, (para não disser desgastantes) explico que viajavam neste grupo quatro crianças que sofrem quando submetidas ao martírio das longas viagens. Ficam irritadas e inquietas. Saindo nestes horários, os que dirigimos temos pelo menos 5-6 horas de sossego e o tempo rende, ao final são etapas de 1.000 quilômetros.
A divisa da província de Santa Fé com Córdoba é a cidade de San Francisco, distante algo mais de 120 quilômetros e onde se chega rapidamente através de autopista. Já começou a nos surpreender a intensa lavoura á beira da estrada, em especial de milho. Córdoba sempre foi uma província dedicada à pecuária de leite e são famosos seus queijos. Comentaram-nos que infelizmente parte dos campos de pastagens foram transformados em lavouras de soja que aparentemente é mais rentável em curto prazo. Isto explicaria a diminuição da produção de carnes na Argentina.
Uma das coisas que chamam a atenção nas estradas argentinas é que são retas intermináveis, onde o rendimento horário é muito bom em longas viagens, mas em Córdoba, no trecho entre San Francisco e Rio Cuarto, existem pequenas cidades por onde se cruza a cada 20 ou 30 quilômetros, e nas quais a estrada entra e sai e interrompida por sinaleiras ou lombadas que pelo tamanho mais parecem rampas de decolagem. O trecho de quase 150 quilômetros chega a ser irritante.
A partir de Rio Cuarto a estrada é muito boa, reta, autopista na maior parte do trajeto e com poucos pedágios que não superam os R$ 2,50. Isto possibilitou que chegássemos a Mendoza na metade da tarde, cansados mais aliviados por termos atingido o primeiro objetivo sem maiores problemas. A entrada à cidade de Mendoza é através de uma autopista que corre perpendicular aos Andes e por isso é impactante observar como estão próximos. Também fica evidente o contraste entre o terreno desértico que não é irrigado e a vegetação, formada principalmente por vinhedos, criada pela ação do homem e a bendita água das montanhas.
Em Mendoza, onde chove anualmente entre 150 e 300 mm, quantidade mensal no Rio Grande do Sul, tudo seria deserto se não fosse pela água de desgelo dos Andes que é levada a uma boa parte das terras da província através de um sistema de canalizações perfeito realizado a partir de um estudo encomendado em 1880 ao engenheiro italiano Cipoletti. Este estudo possibilitou viabilizar o transporte da água da montanha que desce naturalmente pelo rio Mendoza, até diferentes represas, entre elas a represa Cipoletti, das quais saem grandes canais que depois derivam em outros menores e finalizam nas “acéquias” que são as que o visitante observa na beira das calçadas na cidade (fotos acima). É muito gostoso ouvir o “som da água correndo” nas acéquias abertas ou cobertas, enquanto bebe um delicioso copo de malbec num dos tantos bares que existem no calçadão da rua Sarmiento, em pleno centro mendocino.
O clima na cidade é muito seco e quente e sem a presença das árvores presentes em todas as ruas, a sensação térmica no verão seria próxima à de um micro-ondas. Eles são cuidados e respeitados de tal forma que não é raro encontrar um mais “ancião” escorado em estruturas que evitam sua queda. A única entidade autorizada para derrubar árvores é a Prefeitura Municipal. Tomar a iniciativa pessoalmente pode resultar em cadeia.
Durante o verão é importante lembrar que os horários giram em torno de uma instituição local: a sesta. Geralmente o horário é de 08;00 à 12:00 e de 16:00 a 20:00, deixando um bom período para o descanso pós almoço. Entre 13:00 e 17:00 hs, devido ao intenso calor, é difícil achar alguma alma viva nas ruas. Não recomendo que você seja uma delas.

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