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segunda-feira, 17 de setembro de 2018

O erro está na base




Após quase 46 anos participando do mercado de vinhos e espumantes no Brasil, acho que posso dar minhas opiniões com alguma certeza que não estão totalmente erradas.

Participei e participo como produtor, dirigente de entidade e agora como microempresário.
O encerramento das minhas atividades como dirigente de entidade setorial me deixou algumas marcas e muito aprendizado.

Posso afirmar que o problema está na base. O problema é antigo.

O IBRAVIN foi idealizado para que o setor, sempre dividido, dispusesse de uma ENTIDADE MAIOR.
Apesar da feroz resistência da UVIBRA-União Brasileira de Vitivinicultura , entidade na qual as velhas figuras iluminadas ganhavam destaque e com isso mantinham seus egos devidamente alimentados, que não estava disposta a perder poder e fez o possível para impedir, o IBRAVIN nasceu como a figura institucional que finalmente uniria viticultores e vinicultores, pequenos e grandes, produtores de vinhos comuns e finos.

Mas isso não aconteceu, as influencias chegaram à nova entidade, a luta de egos continuou predominando e ao longo dos anos foi se transformando numa eficiente máquina de erros. Sua equipe é jovem, dedicada e eficiente e faz enormes esforços em beneficio do vinho nacional, mas os que tomam as decisões estratégicas, erram.

Primeiro erro gravíssimo

O IBRAVIN promoveu a catastrófica ação em pró das Salvaguardas, que através de taxas e impostos prejudicaria a venda de vinhos importados ajudando os vinhos nacionais. No lugar de se associar aos importadores, responsáveis pelo crescimento de consumo, a opção foi tentar acabar com eles.

Resultado: prejuízo para todos, imagem do vinho nacional arranhada, um fracasso que precisou ser constrangedoramente eliminado.

Segundo erro gravíssimo

Fazer uma ACORDO de boas intensões com as maiores redes de supermercados, para que expusessem mais os vinhos nacionais, aumentassem as vendas, etc.

Resultado: ZERO, porque partia da premissa que supermercado vende o que fornecedor quer. O supermercado reage a um único estímulo: preferencia de sua clientela.

Hoje uma boa parte dessas redes se transformaram em importadoras diretas e são responsáveis pelo feroz aumento de vinhos comercializados abaixo do custo e péssima qualidade provenientes em especial do Cone Sul, numa evidente concorrência predatória devido à desigual carga tributária.

Terceiro erro gravíssimo

Criação do SELO FISCAL como ferramenta para combater o contrabando e sonegação. Esta brincadeira séria aumentou a burocracia, os custos e infernizou a vida dos produtores, em especial os pequenos. Os vinhos importados? Logo ganharam o direito de não utilizar.

Resultado: após alguns anos de estúpida teimosia, decidiram eliminá-lo pela absoluta ineficiência.

Quarto e mais recente erro gravíssimo

Iniciar uma Campanha Publicitária com o simples objetivo de “virar a mesa”, buscar outro caminho para a falta de crescimento do consumo de vinho no Brasil.

Atacar as “velhas e ultrapassadas regras”, acabar com elas e propor uma nova relação entre o consumidor e o vinho. Ou seja, no lugar de tentar abrir novos caminhos, estão tentando dinamitar um dos existentes e criar uma nova mensagem, milagrosa, salvadora, redentora.

Resultado: atacam equivocadamente um dos grandes valores que o vinho tem, sua especificidade, seu valor emocional, seus valores, sua história, seus rituais, seu serviço.

O consumo prazeroso do vinho o distancia do alcoolismo, rechaça os excessos, condena a vulgaridade.

O setor de vinhos nacionais desmerece o trabalho incessante dos profissionais, os sommeliers, que foram preparados para o bom serviço e agora, via entidade maior recebem a mensagem: está tudo errado, vocês estão errados, se atualizem.

Isso, provavelmente custará caro, não somente ao IBRAVIN, mas também aos produtores de vinhos brasileiros.

Para não ser acusado de somente apontar erros, dou minha opinião sobre o que penso que deveria ser feito. Para quem me segue verá que não é novidade.

Ninguém precisa de pesquisa de mercado para saber que somente uma diminuta parcela da população bebe vinho.

Estamos há quase cinquenta anos sem ultrapassar 2 litros por pessoa de consumo anual, incluindo os vinhos de americanas. É necessário alargar o mercado, aumentar o consumo, é vital para o próprio vinho.

Como?

Com todas as ações que já se fazem, e uma GRANDE, CUSTOSA, DURADOURA E INTELIGENTE CAMPANHA PUBLICITÁRIA sobre o vinho como INSTITUIÇÃO.

Simplificando o consumo, valorizando a apreciação, que tenha leveza e emoção, que destaque os valores culturais, de família, que mostre a força e determinação do homem simples que há por traz de cada pé de parreira, da sabedoria e sensibilidade por traz de cada vinho elaborado.

Com que recursos?

Comprometendo com aportes todos os interessados no negocio do vinho como produtores brasileiros e estrangeiros através de suas entidades, importadores, distribuidores, governos municipais, estaduais e federais do Brasil e de outros países.

Os conhecedores do mundo do vinho sabem que há poucos mercados que ofereçam tantas oportunidades como o brasileiro.

É importante que todos se juntem ao redor da ideia “vamos fazer com que o brasileiro seja feliz consumindo vinho, com moderação, com prazer”.

Será uma tarefa fácil?

Com certeza não, em especial porque exigirá a participação de pessoas desvestidas de personalismo e imbuídas de espírito comunitário, pacientes, tenazes, decididas.

Tenho certeza que nos setores citados há inúmeros homens com esse perfil. Precisam se unir, arregaçar as mangas e trabalhar.

Acho também que o IBRAVIN, se pretende ser protagonista do crescimento do mercado de vinhos, terá de mudar sua postura, terá de incorporar, ouvir e fazer participar todos os que fazem parte desse mercado e podem fazer a diferença: importadores, sommeliers, donos de distribuidoras, donos de restaurantes, redes de supermercados, etc.

Se continua considerando-os inimigos, continuarão em frentes opostas, dividindo esforços, criando antagonismo quando o que se precisa é achar sinergias.

Enólogos e produtores de uva e de vinho, são magníficos do portão das propriedades para dentro. Não sempre conhecem o mercado e suas peculiaridades.

Se o IBRAVIN me permite, faria uma ultima recomendação, suspenda essa campanha. Reserve energias para algo mais eficaz.

5 comentários:

Rafael Fernandes disse...

Perfeito sr. Adolfo, estava comentando com o senhor agora mesmo no post do Diego Arrebola sobre isso, entendi perfeitamente o ponto do senhor e gostei MUITO do proposto no texto.

Rafael Mauaccad disse...

O vídeo a seguir, se editado em capítulos, pode substituir de imediato a campanha Millennials. Pela emoção que transmite irá sensibilizar o consumidor a dar preferência aos vinhos brasileiros, resultado da saga imigratória italiana ao Vale dos Vinhedos. Os colonos reconstruíram suas vidas no vale, e ajudaram a construir esta nação, que ainda busca sua identidade. Nomearia a campanha ; Vinho brasileiro, a nossa identidade! Acesse: https://www.facebook.com/2CoisasQueAprendiNaItalia/videos/2085095501501208/UzpfSTEwMDAwNjk2NjkwMTIxMToyMTQ1ODg5Nzk1NjUzMjMw/

Unknown disse...

Adolfo, já tinha admiração por ti; agora ainda mais .
Temos assistido com indignação o desserviço do IBRAVIN, com vídeos que nada mais fazem que ridicularizar e fazer-nos de idiotas que estudam e se dedicam ao mundo do vinho profissionalmente. Tudo inútil o que muitos passaram a vida estudando !!
Grande abraço e admiração
Néa Silveira
Presidente da ABS-SC

Unknown disse...

Adolfo, já tinha admiração por ti; agora ainda mais .
Temos assistido com indignação o desserviço do IBRAVIN, com vídeos que nada mais fazem que ridicularizar e fazer-nos de idiotas que estudam e se dedicam ao mundo do vinho profissionalmente. Eles claramente dizem que tudo o que muotos passaram a vida estudando é inútil e ultrapassado !!
Que tiro no pé !!!
Tantas cabeças, tanto dinheiro, prá isto ????
Grande abraço e admiração

Néa Silveira
Presidente da ABS-SC

Fernando Carvalho disse...

Prezado, Adolfo Lona.
Também sou um admirador seu. E queria perguntar sobre esses vinhos daqui do Cone Sul e até da Europa (vi isso num espumante italiano) de usar os termos "suave", "meio doce", "seco". Essa palhaçada não é típica apenas de quem adultera o vinho com açúcar (chaptalização), caso dos brasileiros? tenho certeza que você fala disso no conteúdo deste blog. Vou chegar lá. Um abraço.