Estou iniciando o blog "VINHO SEM FRESCURAS" justamente porque estou cansado de tanta frescura quando o tema é vinho. Pretendo abordar todos os assuntos relacionados a esta bebida tão natural da forma mas simples possível. Participe enviando noticias, comentários, críticas ou elogios sobre vinhos, espumantes nacionais ou estrangeiros e até, se quiser, sobre algúm de meus espumantes ou vinho que elaboro na pequena e simpática cidade de Garibaldi no interior de Rio Grande do Sul.
quarta-feira, 24 de abril de 2019
Breve histórico da evolução dos espumantes no Brasil – (Que eu vivi)
Todos conhecemos a origem do vinho de Champagne e sua evolução até nossos dias, passados quatrocentos anos. Hoje, com justiça, é considerado um dos vinhos mais emblemáticos e desejados do mundo.
No Brasil, a história é bem mais curta, somente algo mais de cem anos, mas não por isso menos interessante.
Vou me permitir relacionar as pessoas, os produtos e os acontecimentos que ao longo deste tempo, permitiram que os espumantes brasileiros ganhassem o prestígio que eles tem atualmente junto ao mercado consumidor. Representar quase 80% das vendas totais anuais, é uma clara demonstração desta afirmação.
Armando Peterlongo:
Foi indiscutivelmente o pioneiro que no ano de 1913 começou em Garibaldi a produzir espumantes pelo método tradicional. Com sua tenacidade e empreendedorismo, transformou a marca Peterlongo, em sinónimo de “champagne” como era chamado na época.
Ganhou prestigio, frequentou as mesas do Itamaraty e da sociedade brasileira. Garibaldi ganho fama como a cidade do champagne.
Georges Aubert:
Em 1951 chega à cidade esta empresa francesa disposta a produzir espumantes de qualidade pelo método charmat.
Em poucos anos, e tendo no comando Gilbert Troier, os espumantes Georges Aubert dividem a liderança com Peterlongo e contribui para a fama também da cidade.
De Gréville:
Em 1973 chega à Garibaldi a famosa Martini e Rossi, que na época tinha uma excelente rede de distribuição através da qual transformou o vinho Château Duvalier, no mais vendido a até hoje não superado como marca individualmente.
Em 74 vendia 1.200.000 cxs de 6 unidades. O Presidente na época, o saudoso Francesco Reti, um home visionário e conhecedor do mercado brasileiro como poucos, decidiu fazer instalações para produzir espumantes.
Eu tive o privilégio de ser escolhido em Mendoza em fins de 1972 para assumir o controle dos engarrafamentos do vinho em Caxias, e das obras de construção da cantina em Garibaldi.
Atuou como consultor o Sr. Silvain De Sournac, enólogo da vinícola Cazanove de Champagne.
O champagne De Gréville, apesar de ser elaborado pelo método Charmat, seguia a técnica de champagne e lançou o estilo de espumantes mais maturados.
De imediato, pela qualidade e pela distribuição, De Gréville ganhou destaque e mercado dentro do seguimento de espumantes premium.
Chandon:
Em 1976 chega também a Garibaldi, a empresa PROVIFIN, Produtora de Vinhos Finos, formada pela associação entre a Cinzano, que aportou sua rede de distribuição, a Monteiro Aranha que aportou recursos e a Chandon francesa que aportou o nome e os recursos técnicos.
O Diretor Técnico da Chandon da França, Philippe Culon trouxe do Chile o enólogo Mário Geisse que comandou durante anos esta vinícola que veio para reforçar a oferta de espumantes de qualidade.
Mario posteriormente sairia da Chandon para criar sua própria produtora e também contribuiria substancialmente para consolidar a imagem do RS como produtor de espumantes de qualidade.
O grande mérito da Chandon, além de ter contribuído para a imagem dos espumantes brasileiros junto ao mercado consumidor, foi ter substituído o nome champagne por espumante.
A denominação espumante oferecia resistência das cantinas porque era associado a sidras e espumantes de menor qualidade.
Com a chancela da Chandon o mercado aceitou esta denominação e os produtores o adotaram definitivamente. Brasil começava finalmente a respeitar as denominações de origem que não lhe pertenciam. Foi um grande passo.
Angelo Salton:
Assim como as empresas internacionais contribuíram com recursos investidos em mídia, com a distribuição a nível nacional e com modernas tecnologias de produção, Angelo Salton contribuiu, com seu entusiasmo e esforço, na expansão a oferta do mercado de espumantes brasileiros.
A vinícola Salton produzia na época vinhos finos nos quais concentrava seus esforços. Angelo muda o foco para a produção e comercialização de espumantes e assume pessoalmente o desafio de crescer substancialmente neste seguimento. Foi, como Francesco Reti da Martini em 1973, um visionário e o tempo demonstrou quanto estavam corretos.
Angelo iniciou seu incansável trabalho no estado de São Paulo onde morava e teve tanto êxito que a marca Salton se transformou em líder de mercado. Esta liderança não foi casual nem passageira.
Até hoje, Salton é líder de mercado na comercialização de espumantes e possui uma das mais modernas instalações de produção de espumantes pelo método Charmat.
Valduga:
Esta vinícola, dirigida pela admirável dupla João e Juarez Valduga, teve sempre como foco central a produção de vinhos. Desde os anos noventa produzem vinhos finos de qualidade e investem fortemente no eno-turismo.
A esse respeito é justo ressaltar que Juarez Valduga foi um dos idealizadores do Vale dos Vinhedos e muito do sucesso atual é devido a ele. Sem dúvida, outro visionário.
Com o tempo acrescentaram vinhos produzidos em outros países e reforçaram sua atenção nos espumantes. Quando a Domecq decide sair do Brasil e encerrar suas atividades em suas belas instalações em Garibaldi, a Valduga as adquire e cria uma vinícola, a Domno do Brasil onde produziria espumantes pelo método charmat.
Com a marca Nero ganha mercado rapidamente e contribui com seu esforço, para o aumento de consumo de espumante no Brasil.
Considero a Valduga uma das empresas vitivinícolas mais lúcidas do Rio Grande do Sul.
Há poucos anos, percebendo o avanço das cervejas artesanais, cria e lança a cerveja Leopoldina para entrar num mercado conhecidamente promissor.
Cooperativa Aurora:
Esta empresa é um exemplo de organização e dinamismo. Há poucos casos no mundo de uma cooperativa vinícola com tamanho sucesso.
Aurora, além de participar ativamente do mercado de espumantes, possui uma das instalações mais modernas para produzi-los pelo método charmat.
Aurora, assim como a Cooperativa Garibaldi, oferecem serviços de elaboração de espumantes (eu faço aí meus charmat) a vinícolas pequenas e possibilitam que estas possam participar do mercado. O investimento necessário para uma boa instalação é extremamente elevado e inviável para quem produz menos de 100 mil garrafas anuais.
Prosecco:
Este espumante da região do Veneto, na Itália, entrou muito forte no mercado brasileiro, em especial no estado de São Paulo e também contribuiu para o aumento de consumo. O nome, muito apropriado, se tornou sinônimo de espumante e até hoje alguns consumidores os confundem.
Este artigo não tem nenhuma pretensão de ser completo já que com certeza muitas pessoas, empresas e produtos mais também ajudaram a divulgar o espumante e fomentar o consumo.
Me desculpem por ter resumido nestes que citei.
É mais um relato do que vivenciei desde minha chegada ao Brasil em janeiro de 1973.
Aproveito para homenagear todos e agradecer pelo esforço.
Quero encerrar dizendo que tenho certeza que poucos produtos derivados da uva e do vinho, tem um futuro tão promissor como o espumante.
TIM TIM
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2 comentários:
Mais uma bela aula.
Sabe alguma coisa dos bastidores da não aceitação da Peterlongo em chamar seus vinhos de espumante?
Pode responder aqui, mas por favor, encaminhe a resposta no WhatsApp.
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