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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Uvas do Brasil


Muitos falam das uvas emblemáticas de determinados países fazendo referência a variedade tinta ou branca que melhor representa os vinhos destes países. Geralmente é a que ocupa maior área cultivada.

Este conceito pode se aplicar nas regiões do Novo Mundo porque na Europa o nome da região predomina sobre a casta.

Bordeaux na França por exemplo, permite a utilização das variedades Cabernet Sauvignon, Franc, Malbec, Petite Verdot e Merlot em proporções que variam conforme a região. Já na América do Sul a Argentina é representada pela Malbec, Uruguai pela Tannat e Chile pela Cabernet Sauvignon e mais recentemente pela Carmenere.

E o Brasil?

As variedades plantadas nas diferentes regiões do RS foram escolhidas por razões mercadológicas levando em consideração os vinhos mais comerciais. Por isso as grandes quantidades de Cabernet Sauvignon e de Chardonnay existentes.

É de conhecimento público que o fator que prejudica as características das uvas tintas na RS é o excesso de chuvas na época de maturação e colheita. É raro o ano que chove menos de cem milímetros de janeiro a março. O normal é quase trezentos em dias alternados com sol o que prejudica fortemente a sanidade e maturação das variedades mais tardias, que ficam mais tempo expostas às intempéries.

A Cabernet Sauvignon é uma variedade de ciclo longo, completa o ciclo de maturação em março ou abril e sofre devido a isso.
Como a necessidade de Chardonnay é alta para a elaboração de espumantes esta variedade nunca foi questionada até porque se adaptou maravilhosamente bem.

Infelizmente se abandonou uma variedade como Cabernet Franc que predominava na década de sessenta e setenta e que muito bem representava os vinhos tintos da época.

Basear as escolhas em caminhos comerciais fáceis é desconhecer a realidade: o caminho nunca será fácil para os vinhos tintos brasileiros, pouco se fez para que isso acontecesse.
O setor terá de trabalhar muito e bem para ganhar a confiança do consumidor como aconteceu com os espumantes.

O fator principal será oferecer vinhos autênticos e originais. Entendo como autênticos os vinhos tintos que não precisem da “ajuda” da cor do Tannat ou da Alicante, dos aromas da madeira fácil como chips, lascas e tábuas, do sabor “amável” do carvalho, etc.
Estes são vinhos comerciais que enganam os consumidores novatos, mas por pouco tempo.

Além disso o caminho fácil está ocupado pela Argentina e Chile, campões na oferta de vinhos tintos jovens, frutados, amadeirados, fáceis de beber e em especial a preços muito atrativos.

Em minha opinião temos de abrir nosso próprio caminho, o caminho do vinho gaúcho que ninguém poderá ocupar.

E aí entra a escolha das variedades.

Pessoalmente sempre acreditei no potencial da Cabernet Franc e da Merlot por serem de ciclo mais curto e pela elegância e nobreza de seus vinhos.


Minhas experiências mais recentes na Campanha através de consultorias nas vinícolas Batalha de Candiota e Peruzzo de Bagé me convenceram que devemos concentrar nossos esforços técnicos e comerciais nestas uvas.

Por serem versáteis, fieis, nobres e com enorme potencial nas condições de clima e solo que predominam aqui.