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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Por uma questão de sobrevivência


Os números publicados recentemente em relação ao desempenho do mercado brasileiro de vinhos e derivados durante o primeiro semestre de 2014 não são nada alentadores. Mas são reveladores.

A venda de produtos nacionais cresceu 1,99% graças ao desempenho do suco de uva e dos espumantes doces moscateis mas em contrapartida os importados cresceram 14,11% impulsionados pelos vinhos. Os espumantes e champagnes importados caíram 8,54% o que demonstra a preferência e respeito que o consumidor brasileiro tem pelos produtos “da casa”.

Os vinhos de mesa nacionais feitos com uvas da espécie americana direcionados ao mercado que aprecia vinhos mais doces, recuaram 6,23% e os vinhos finos 5,79%.
Os espumantes, confirmando o bom desempenho de todos os anos, se mantiveram estáveis.

Estes números demonstram que as ações e medidas adotadas pelo setor brasileiro não estão dando resultado, ao menos em curto prazo.

A adoção do selo fiscal, anunciada como a solução para acabar com o contrabando que segundo informações da época, era de milhões de litros, contribuiu para burocratizar e onerar o trabalho das vinícolas. Não teve efeito prático nenhum. O contrabando corre solto ou sempre foi insignificante?

A fracassada tentativa de colocar barreiras aos importados deixou sequelas porque em alguns seguimentos de mercado a resistência aos vinhos nacionais aumentou.

As toneladas de recursos desperdiçados anualmente pelo Ibravin em ações caras e absolutamente inúteis como participação e patrocínio de Carnaval, parcerias com supermercados e campanhas publicitárias mal direcionadas somente beneficiaram os de sempre, duas ou três vinícolas grandes que continuam crescendo em detrimento dos pequenos produtores.

Contrariando as previsões das “cabeças pensantes” do setor que afirmam que o segundo semestre será diferente, posso garantir, apenas corrigindo a famosa frase do nobre deputado Tiririca, PIOR FICA.

Para completar o rol de comprovações da inoperância e inutilidade do papel do Ibravin, que jamais conseguiu ser a liderança que o setor precisa, o governo federal acaba de sancionar uma Lei Complementar que permite à centenas de setores empresariais brasileiros a inclusão no SIMPLES NACIONAL.

Através desta medida as empresas incluídas terão uma forte redução da carga tributária e deixarão de ser submetidas diariamente ao estupro da feroz ST.

Infelizmente o setor produtor de vinhos e derivados não foi incluído. Qual foi a reação do Ibravin? Nenhuma. Ainda não percebeu que perdemos a grande e única oportunidade surgida nos últimos séculos para reduzir a estúpida, injusta, elefantesca, corrosiva e predatória carga de tributos que pagamos.

TRABALHAMOS PARA PAGAR IMPOSTOS E O QUE É PIOR, FINANCIAMOS O GOVERNO JÁ QUE PAGAMOS ANTES DE RECEBER O RESULTADO DO FATO GERADOR DO IMPOSTO.

Proponho a única ação com alguma chance de êxito neste momento eleitoral, de forte pressão sobre o Governo: um grande acampamento na frente do Palácio de Governo em Brasília onde iremos comparecer representantes de toda a cadeia produtiva. Levemos e mostremos os símbolos de nosso patrimônio cultural: músicas italianas, ferramentas como enxadas, pás, tesoura de poda, nossas comidas como queijos, salame, copa, nossos vinhos de garrafão, finos, espumantes, alguns galhos de parreira secos que poderão simbolizar “o merecido descanso anual” ou o futuro de todos os parreirais, etc.

Tenho certeza que a mídia nacional dará ampla cobertura e a ressonância do movimento chegará aos ouvidos de deputados, senadores e executivo.

Não poderá faltar nenhuma entidade setorial do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e todos os estados produtores.
Estou convencido que este é o momento da pressão. A luta eleitoral cria uma situação favorável ao atendimento de reinvindicações que ganham velocidade de forma proporcional ao barulho.

Ou fazemos algo ou continuaremos trabalhando para pagar impostos.

Não estamos lutando pela sobrevivência de uma bebida alcoólica. Estamos lutando pela preservação dos valores culturais de uma região e de suas tradições em memória daqueles que de longe vieram a desbravar esta terra.

Ninguém conseguirá apagar a chama da paixão que nutrimos por aquilo que fazemos, ninguém nem nada impedirá que continuemos lutando pelo direito de desenvolver nossas vocações, nossas habilidades.

Ninguém conseguirá diminuir a importância do pequeno produtor, o artesão.

Mas não é justa esta luta desigual que nos freia, nos desestimula, nos agride.