Total de visualizações de página

sábado, 12 de abril de 2014

O trabalho é o melhor marketing



O surgimento de novas regiões produtoras como a Campanha e a Serra do Sudeste no Rio Grande do Sul poderá fortalecer, finalmente, o mercado de vinhos brasileiros.

Em ambas já houve iniciativas importantes que infelizmente pouco ajudaram.
Me refiro especificamente a Almadén que investiu em vinhedos e cantina em Santana do Livramento e que perdeu o rumo adquirindo uvas na Serra e comercializando seus vinhos sem nenhuma referencia à região, e a Companhia Vinícola Riograndense que fez um investimento pioneiro no município de Pinheiro Machado na Serra do Sudeste, com excelente potencial, que posteriormente foi abandonado e vendido a vinícola Terrasul de Flores da Cunha que nunca o desenvolveu.

As duas regiões, Serra do Sudeste e Campanha, apesar de seu enorme potencial ficaram esquecidas por falta de investimentos com maior foco e interesse.

Houve sim alguns investimentos em vinhedos feitos por vinícolas da Serra que em nada contribuíram para desenvolver a vitivinicultura regional. Ficaram somente como pontos de fornecimento de matéria prima.

Agora a situação está mudando, em especial na Campanha.

Nesta região surgem projetos integrados com vinhedos bem conduzidos com produção limitada e cantinas com instalações e equipamentos modernos ajustados ao potencial produtivo e qualitativo de cada empreendimento.

Tenho o privilegio e a sorte de acompanhar como consultor dois deles, a vinícola Peruzzo de Bagé e a vinícola Batalha de Candiota e posso testemunhar todo o esforço e empenho que existe para fazer as coisas adequadamente, sem desvios, sem pressa.

Sempre afirmo que vinhedos de qualidade e cantinas modernas são “construídos” com algo de paciência e bastantes recursos. O problema começa quando os vinhos estão prontos e precisam ser colocados no mercado.

Dezesseis produtores da Campanha criaram a Associação Vinhos da Campanha e começam a trabalhar para obter uma Indicação de Procedência.

Por conhecer a região e alguns dos integrantes desta Associação tenho certeza que não cometerão os mesmos erros de outras velhas instituições. Atuei em muitas delas e a guerra de egos e a influencia negativa de algumas "grandes" produtoras impediam executar um bom trabalho. Tanto é verdade que até na maior entidade do setor na atualidade, o Ibravin, esta influencia quase colocou tudo a perder.

Espero que os associados desta entidade lembrem sempre que unidos são mais fortes que sozinhos, que ninguém e mais importante que outro, que ninguém faz o melhor vinho, que tamanho não é documento, que erros isolados comprometem o grupo e que os interesses coletivos devem prevalecer sobre os individuais.

Espero que se preocupem em criar uma identidade coletiva com seus produtos para que sejam diferentes, para que se destaquem no mercado.

Espero que fiquem atentos para que o marketing imediatista não influencie suas decisões e sua comunicação.

Espero que abandonem a ideia equivocada que são “A Califórnia Brasileira” por que não o são, nem a Borgonha nem o Bordeaux brasileiros. São a Campanha Gaúcha, uma região que quer demonstrar os resultados de toda sua potencialidade. A existência da Campanha gaúcha será relevante no mercado se seus produtos forem relevantes.

Espero que não esqueçam que a qualidade do vinho nasce no vinhedo, que nenhuma tecnologia consegue transformar uva de má qualidade em vinhos dignos. Espero que desestimulem (ou proíbam) o uso de “artifícios tecnológicos” que encurtam caminho, que diminuem tempos, que tiram a sabedoria e a paciência do processo produtivo e resultam em vinhos biônicos
.
Espero que evitem comparações bobas e inocentes do tipo “Aqui produzimos vinhos tintos melhores que a Serra”, “Somos melhores que eles”, etc.
Não há melhor nem pior. Há excelentes produtos que preservam suas características assim como há produtos abomináveis em todas as regiões do mundo. Na Serra há produtores que fazem vinhos excepcionais, únicos e também ha aqueles que ainda não conseguiram sair do garrafão.

Espero que lembrem que o fantástico potencial do mercado brasileiro de vinhos reservará um lugar de honra para todos os que ofereçam produtos dignos, típicos, com estilo próprio.

Não é nem será necessário brigar por espaço, haverá para todos.

Basta cada um achar o seu.

Nenhum comentário: