Nestes quarenta anos de Brasil tive o privilegio de participar da evolução (e involução) da vitivinicultura gaúcha. Longos anos se passaram desde a época em que havia, por ignorância ou interesse de algumas vinícolas da época, mistura de uvas viníferas e americanas, dornas com uvas esmagadas para o transporte e preços aviltados determinados por um grupo seleto e pequeno de empresários.
A década de setenta foi pródiga em avanços como a separação definitiva das uvas por espécie, a importação de uma enorme quantidade de mudas da Europa distribuídas junto aos produtores para aumentar a produção com bases técnicas modernas, a substituição das dornas por caixas plásticas de 18 quilos e a remuneração das uvas por qualidade, estado de maturação produtividade. Foram avanços que refletiram imediatamente na qualidade dos vinhos.
De lá para cá aconteceram muitas coisas, em especial mudanças nas técnicas de elaboração e no marketing dos vinhos que a meu ver distanciaram estes da sua origem. Quando digo mudanças nas técnicas de elaboração me refiro à introdução do que se chamaram “novas práticas”, onde cito como exemplo, o uso de equipamentos para modificar a composição do suco retirando água (osmoses inversa, evaporação, etc) e os chips (frações de carvalho) para aromatizar e dar cara do que não é, aos vinhos.
O marketing chegou fortemente à indústria do vinho gaúcho e provocou milagres. Criou de uma hora para outra a figura dos vinhos super-premiuns e ícones que “deviam”, para ser verdadeiros, ser muito alcoólicos, extremamente encorpados e carregados de carvalho, de barrica ou similares. O tempo deixou de ser importante para lograr um vinho de guarda. Álcool, cor e madeira eram suficientes. O vinho como expressão da natureza desapareceu. O marketing passou a criar o modelo de vinho da cantina e a produção se limitou a fabrica-lo.
A enologia começou a ficar parecida com a indústria farmacêutica. Uvas tintórias para aumentar a cor, chips para aumentar os aromas, graduação alcoólica alta para dar nobreza e tudo embalado em garrafas pesadas, com formatos chamativos, verdadeiras obras de arte.
Prefiro a simplicidade. Prefiro o vinho honesto, simples, em copo de cristal ou geleia, saboroso, convidativo.
Acho que a modernidade distanciou nossos vinhos da origem.
Acho que foi um crime abandonar variedades tradicionais como Cabernet Franc, Riesling itálico, Trebiano, Barbera e Bonarda.
Acho que os vinhos modernos perderam muito o gosto de vinho.
Parece absurdo mas as vezes sinto uma enorme saudade de alguns vinhos da década de oitenta como o Merlot da Granja União, o Cabernet da Château Lacave eo Baron de Lantier da Martini e Rossi.
Sinto como que parei no tempo...mas não sei se quero avançar.
Estou iniciando o blog "VINHO SEM FRESCURAS" justamente porque estou cansado de tanta frescura quando o tema é vinho. Pretendo abordar todos os assuntos relacionados a esta bebida tão natural da forma mas simples possível. Participe enviando noticias, comentários, críticas ou elogios sobre vinhos, espumantes nacionais ou estrangeiros e até, se quiser, sobre algúm de meus espumantes ou vinho que elaboro na pequena e simpática cidade de Garibaldi no interior de Rio Grande do Sul.
3 comentários:
Brilhante!
Quem dera houvesse mais produtores que pensassem assim.
Abs.
Estou contigo. Abraço
Lona!
Sabe quando alguém escreve, ou diz, exatamente aquilo que tu quer (queria, gostaria) de dizer? Então! Pois é exatamente assim que li teu post! Brilhante, elucidativo e um alerta aos que, poucos, sabem vinhos! Não aqueles que acham conhecer vinhos, por lerem revistas ou seguirem este ou aquele "conhecedor"!
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