Estou iniciando o blog "VINHO SEM FRESCURAS" justamente porque estou cansado de tanta frescura quando o tema é vinho. Pretendo abordar todos os assuntos relacionados a esta bebida tão natural da forma mas simples possível. Participe enviando noticias, comentários, críticas ou elogios sobre vinhos, espumantes nacionais ou estrangeiros e até, se quiser, sobre algúm de meus espumantes ou vinho que elaboro na pequena e simpática cidade de Garibaldi no interior de Rio Grande do Sul.
quarta-feira, 17 de agosto de 2016
Marcas que marcam
Algumas marcas de vinho que passam por nossas vidas ficam gravadas na memória pelo resto da vida. Claro, para nós enólogos algo mais experientes, as primeiras e mais frescas são aquelas com as quais tivemos algum tipo de envolvimento.
Sem sombra de dúvida, a mais forte para mim é Baron de Lantier porque representou o primeiro e grande desafio como enólogo na Serra Gaúcha. São tantas as lembranças que não cabem nestas linhas.
A segunda marca foi Château Duvalier pela importância que teve para mim desde o ponto de vista de conhecimento do mercado consumidor de vinhos, evolução dos gostos, distribuição, etc.
E há uma terceira marca que me marcou, pelas pessoas que conheci e com as quais convivi na minha chegada ao Brasil em 1973: os vinhos Granja União produzidos pela Companhia Vinícola Riograndense de Caxias do Sul – CVRG.
Para aqueles que afirmam que o vinho brasileiro de qualidade nasceu com as vinícolas familiares como Miolo, Valduga, Salton na década de noventa, posso assegurar que não é bem isso.
Apesar da carência de ofertas de uvas viníferas na época, a CVRG produzia o magnífico Merlot, amável, agradável, com forte caráter varietal, digno. Era pouco conhecido pela limitada área de distribuição, mais concentrada no Rio Grande do Sul, mas com um potencial enorme pelo apelo e qualidade.
A qualidade e honestidade desta marca não era por acaso. Por trás dela haviam técnicos sérios e sábios que a partir de uma matéria prima diferenciada, produziam vinhos tintos e brancos surpreendentes. Me refiro especialmente a Mario Pasquali, Onofre Pimentel e Danilo Calegari.
Com certeza que a viticultura da época teve no engenheiro agrônomo Onofre Pimentel um pilar de sua evolução. Ele foi o responsável pela implantação dos vinhedos da Granja União em Flores da Cunha e o descobrimento do potencial do Município de Pinheiro Machado para a produção de uvas com capacidade diferenciada de maturação. Variedades como Riesling Itálico, Merlot, Malvasia foram sabiamente adaptadas e cultivadas servindo como base para os bons vinhos Granja União.
Pimentel estudou, durante toda sua vida, os melhores casamentos entre cavalo e enxerto para as diferentes regiões e variedades. Com o fim da CVRG prestou consultoria para a Casa Vinícola De Lantier e através dela assimilamos parte de seu enorme conhecimento.
Mario Pasquali era enólogo da CVRG e responsável pela cantina de Caxias do Sul, onde eram elaborados os vinhos Château Duvalier e Granja União. Foi meu primeiro contato em 1973 e dele comecei a gostar de imediato. Aparentemente sério e fechado, era um homem de uma generosidade impar e por isso com ele conheci a forma de elaboração no Brasil e as limitações tecnológicas que existiam na época.
Danilo Calegari, enólogo chefe, comandava a CVRG e todas as unidades espalhadas pelo interior de Garibaldi, Bento e Farroupilha com maestria. Com os papos demorados que tive conheci a história da vitivinicultura gaúcha e aprendi a respeitar os velhos enólogos-heróis que faziam milagres com a matéria prima muitas vezes inadequada para elaborar vinhos de qualidade.
Com o desaparecimento da CVRG na década de noventa a marca foi adquirida pela antiga Cordelier e posteriormente pela Cooperativa de Garibaldi.
Mudaram os vinhos, mudou o estilo, mas ficou a lembrança de uma marca que foi orgulho dos gaúcho e que os representou dignamente por décadas.
Deixo o registro de meu agradecimento a estes homens e seus feitos sem os quais dificilmente a vitivinicultura teria chegado onde chegou.
O Rio Grande deveria reverencia-los.
Lona, esse texto bonito e "sem frescura" traz lembranças da vinha infância. Produzíamos e entregávamos uva isabel,francesa,borgonha e um pouco de moscato, na unidade Bento Gonçalves da Vinícola Rio Grandense. É uma postagem esclarecedora e presta homenagem aos pioneiros da elaboração de vinhos finos nacionais.
ResponderExcluirObrigado Braz pela mensagem. É uma pena que o setor não se preocupe em resgatar os feitos daqueles que abriram "picadas" e mostraram como se deve fazer vinho no RS. Grande abraço
ResponderExcluirPrezado Lona, parabéns pelo texto e pelo resgate da história desses homens e desta empresa pioneira. Como filho de um dos seus diretores, Carlos Corrêa Oliveira, cresci nesta empresa e convivi pequeno com estes homens. Sinto me orgulhoso quando alguém com teu conhecimento reconhece o seu valor.
ResponderExcluirMuito obrigado.
Antônio Oliveira.
Prezado Lona, parabéns pelo relato. Buscando informações sobre degustações e locais para iniciar meu aprendizado em vinhos me deparei com rótulos de vinhos que meu finado pai consumia. Guardo com muito carinho em minha mente as marcas aqui apresentadas. Tenho desejo de melhorar meu entendimento dos vinhos, já que gosto de apreciá-los, muitas vezes com ignorância. Por outro lado reconheço os esforços dos gaúchos serranos em desenvolver bons produtos e percebo que os espumantes já alcançaram patamares diferenciados. Espero que seu conhecimento continue sendo amplificado, e que em médio prazo, possamos ter vinhos com caráter tão particular que possam ficar lado a lado aos encontrados nos países andinos e europeus.
ResponderExcluirAlguem sabe quanto vale esse vinho?
ResponderExcluirSe alguem souber quanto vale esse vinho me mandar um email fumacinhahcwb@gmail.com
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