segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Não poderia acontecer

Apesar da existência do Preço mínimo que aparentemente protege os produtores de uva da Serra dos abusos de algumas cantinas e do acordo informal que fizeram as entidades de classe, há noticias de que algumas vinícolas estão dispostas a receber uvas comuns ao preço de R$ 0,35 ao quilo, R$ 0,20 abaixo do estabelecido por lei.

Como a uva é um produto perecível, de curtíssima vida, a pressão que alguns produtores recebem por esta situação favorece esta barbaridade.

Correm boatos que alguns expertos se aproveitando desta desigualdade, estão “aceitando” receber algumas tintas finas (excedentes) desde que ao preço de comuns.

É o velho jogo de gato e ratão aplicado livremente, sem punições, que levará mais cedo ou mais tarde ao total desestímulo, ao desespero dos produtores de uva. Como estes tem enraizada esta cultura provavelmente não arrancarão as vides, mas dificilmente entenderão os repetidos discursos das cabeças pensantes do setor que afirmam que o futuro está na qualidade. Que qualidade? Quem paga por ela?

Esta situação é constrangedora, pouco digna, inadequada.

A viticultura da Serra gaúcha se caracteriza pelo perfil mini fundiário das propriedades que explica o forte vínculo que existe entre o homem da terra e suas uvas. Toda a família trabalha e depende desta cultura, tem orgulho do que faz, não mede esforços para produzir em condições não sempre favoráveis. É um trabalho artesanal e como todo artesão, espera o reconhecimento e a valorização de seus clientes.

O setor tem a obrigação de defender este patrimônio cultural que é a viticultura da Serra gaúcha. Tem obrigação de preservar a pequena propriedade criando mecanismos que garantam uma remuneração justa e digna, que estimulem a qualidade, que corrijam os erros, que orientem.

Um exemplo de minifúndio bem sucedido é a região de Champagne, na França onde a relação entre viticultor e produtor de espumantes parte da premissa básica que um depende do outro. E todos desfrutam da riqueza gerada pelo negócio.

Não adiantam os trabalhos científicos que pretendem estabelecer estratégias e visões futuras se não se resolvem os velhos problemas que atingem a matéria prima.

As propostas defendidas por algumas entidades de classe fazem pensar que o futuro está somente na grande propriedade, na grande vinícola, nas novas regiões, no aumento de produtividade, da redução de custos, etc.

Sempre insisti que a Serra gaúcha oferece grandes dificuldades para o produtor de uvas mas a existência de vinhos excelentes são uma demonstração que é possível vencer as dificuldades.

É importante lembrar que as grandes regiões produtoras do mundo surgiram da superação, do esforço, da união de todos ante as dificuldades.

5 comentários:

  1. Roubo atrás de roubo.
    Os abastados barões do vinho nacional, infelizes, sem caráter e sem moral,não conseguiram colocar a salvaguarda em curso e agora esperneiam de todas as formas de meio a satisfazer a sua ganância.
    Estão felizes com a ST, este tributo bárbaro, porque imaginam que um aumento de tributo extra sobre os importados ( prometido na calada aos marionetes das associações )eleve o consumo de seus vinhos..A maioria é mal amado, com suas esposas pulando a cerca e seus filhos se drogando por ai..

    ResponderExcluir
  2. Não reclamem, vocês não tem a AmBev no pé... hehe.
    Enquanto não conseguirmos pacientemente que uma boa fatia dos consumidores entenda a importância de uma chácara perto da cidade, dessas que fornecem frangos de qualidade e não aves estufadas com hormônios, enquanto o pequeno receber o rótulo de desconfiança dos consumidores com o selo (aval) do rei (estado), associações de grandes fornecedores ditarão regras para defender seus negócios e não suas atividades. A taxação como regulador do comércio, proteção de mercado e o que segue, quase sempre é um tiro no pé. Esse dinheiro não recolhido pelo estado agora poderia ter sido aplicado como incentivo antes. Somos remediadores, uma lástima.

    ResponderExcluir
  3. Parabens pela sua nota. Um ponto de luz em um mercado nebuloso

    ResponderExcluir
  4. Caro Adolfo

    Estive na Serra na semana passada, e confirmei seus comentários sobre os preços de uva. Nas ultimas semanas ficou " descarada" a oferta de R$ 0,35 (a serem pagos em 30, 60 e 90 dias!!) para uvas finas, ou R$ 0,57 a serem pagos em 2014!
    Conversando com alguns poucos viticultores, o que ví foi uma gente sofrida e que não possui sucessores, pois os que puderam, formaram seus filhos em outras áreas...
    Temo que o processo de concentração em grandes empresas irá se acentuar daqui para a frente, com o aumento da crise no setor.

    Forte abraço

    ResponderExcluir
  5. Meu caro Team-OF
    Como disse isto não poderia estar acontecendo numa região onde a necessidade de matéria prima de qualidade é fundamental. Os vinhos serão melhores quanto melhor for a matéria prima e o plantio de vinhedos das grandes vinícolas não pode ser um fator de desestímulo ao pequeno produtor. Abraço

    ResponderExcluir