Creio que todos os que estivemos envolvidos neste episódio da Salvaguarda, Ibravin inclusive, deveríamos, à luz das reações acaloradas em pro e contra a medida, refletirmos sobre o problema da redução drástica de participação do vinho fino nacional no mercado. É fundamental ir a fundo, com objetividade, transparência, sem melindres e sem temores.
Creio ainda que os acontecimentos deixaram uma lição: a parte mais importante é que o mercado consumidor é capaz de manifestar-se através de seus representantes nas redes sociais, internet, mobilizando-se e reagindo contra ações de todo tipo que possam ameaçar sua liberdade de escolha.
Num país como o Brasil, com a maior população da América, com um consumo ainda insignificante, com uma evidente melhoria na distribuição de renda, com uma população “sedenta” de conhecer sobre a cultura da uva e do vinho, o mercado futuro oferece condições para todos participarmos, sem guerras, com honestidade nos preços e na qualidade de nossos produtos. Tenho certeza que todos poderemos construir um futuro brilhante para o mercado onde o vinho nacional ocupará o lugar merecido.
O consumidor tem preconceito sobre o vinho nacional?
Se a estatística do consumo de espumantes nacionais e importados mostra a enorme predominância dos primeiros, porque imaginar que a situação inversa nos vinhos é resultado de preconceito? NÃO É.
A verdadeira razão é que o consumidor CONFIA na qualidade do espumante e NÃO CONFIA na qualidade do vinho. Trata-se de um problema de imagem. É necessário mudar esse conceito tendo muita paciência e ideias claras.
Paciência porque é mais fácil GANHAR CONFIANÇA que RECUPERAR A CONFIANÇA PERDIDA.
Ideias claras porque se não forem atacadas as causas do problema com inteligência, modéstia e profissionalismo, em pouco tempo as consequências serão piores e não haverá solução.
A falta de confiança é tamanha que o consumidor prefere beber um vinho argentino ruim comprado a menos de 10 reais do que um nacional do mesmo preço e com certeza de melhor qualidade.
O Ibravin tem uma tarefa faraónica e este respeito e já começou a executá-la. Esperemos que continue ficado nisso promovendo degustação, palestras, apresentações e cursos que aproximem o setor ao consumidor.
O Ibravin tem de estimular e apoiar fortemente todas as novas regiões que estão surgindo e em especial os pequenos produtores. São através deles que a cultura da uva e do vinho se consolida nestas novas regiões. Já é conhecida a inutilidade da passagem por algumas regiões de vinícolas de grande porte, nacionais e multinacionais. Passaram e não deixaram nada.
O mercado se alargou em termos de oferta e o Brasil pouco fez. Há uma década países como Portugal, Itália e Espanha chegavam ao Brasil representadas por vinhos de pouquíssimas regiões. Espanha com Rioja, Itália com Valpolicella e Portugal com Douro e Verde. Agora são dezenas de vinhos de boa qualidade, curiosos, inovadores, com novas propostas. Nós fizemos muito mas as iniciativas regionais não recebem apoio, incentivo, divulgação. Regiões que surpreendem por seus vinhos como Encruzilhada do Sul, Bagé, Pinheiro Machado e outras são sustentadas pelo esforço dos pequenos empreendedores. Pouco ou nada de apoio recebem.
Iniciativas como o Consórcio de Produtores de Espumantes de Garibaldi, criado para normatizar a metodologia de elaboração e monitorá-la através de auditorias externas, foi ignorada pelo Ibravin.
Promover uma mudança drástica nas regras da elaboração de vinhos e espumantes realizando alterações na Lei de vinhos será a ferramenta mais eficaz para um novo salto de qualidade. Acabar com a chaptalização para vinhos finos de imediato é fundamental, não pelas poucas gramas de açúcares que serão deixadas de colocar mas pelo efeito benéfico sobre a maturação das uvas e a maciez e harmonia dos vinhos, em especial da Serra Gaúcha.
Seria muito saudável que as entidades de classe representativas do setor e o Ibravin saiam mais de seus gabinetes e caminhem o mercado, ouvindo o consumidor, os formadores de opinião, os pequenos produtores. Chega de lamentações e de previsões apocalípticas. O mercado está aí, aguardando que arregacemos as mangas e trabalhemos juntos para crescer.
A instituição VINHO deve estar por cima de tudo. Lutemos para que a cultura da uva e do vinho se consolide e expanda. Mas não lutemos entre nós porque nos enfraquecemos e neste esforço vamos precisar de todas nossas forças.
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