Estou iniciando o blog "VINHO SEM FRESCURAS" justamente porque estou cansado de tanta frescura quando o tema é vinho. Pretendo abordar todos os assuntos relacionados a esta bebida tão natural da forma mas simples possível. Participe enviando noticias, comentários, críticas ou elogios sobre vinhos, espumantes nacionais ou estrangeiros e até, se quiser, sobre algúm de meus espumantes ou vinho que elaboro na pequena e simpática cidade de Garibaldi no interior de Rio Grande do Sul.
sábado, 27 de junho de 2020
Orgânico SIM, natural NÃO
Antes que me denunciem ao STF ou me queimem em praça pública, leiam as minhas argumentações que justificam o título deste artigo.
Procurando uma definição de vinho natural fiquei convencido que há diferentes interpretações e nenhuma universal.
Vale lembrar que na Europa é proibido o uso do termo natural. É permitida sim a expressão “vinho orgânico” ou “vinho de agricultura orgânica”.
Na França acabam de criar o chamado “vinho de método natural” (vin méthode nature).
"São aqueles produzidos com uvas orgânicas certificadas e nos quais são proibidas algumas práticas enológicas (não todas), leveduras selecionadas e o uso de sulfitos é facultativo com um máximo de 30 mg/l. Haverá um selo que diferenciará o vinho sem sulfito daquele que usa esse aditivo".
Esta talvez seja uma boa notícia, já que começa a existir uma tentativa de definição que poderá ser tornar um guia para os países que desejem colocar ordem nesta desordem.
Algumas definições daqueles que defendem (e comercializam) estes vinhos preocupam porque tratam como verdadeiros “assassinos” os enólogos que produzem vinhos e espumantes dentro da lei, porem utilizando leveduras selecionadas e sulfitos moderadamente.
Eu me incluo nestes.
Vejamos uma:
“Vinhos naturais são aqueles que as colheitas são manuais e durante a vinificação o enólogo se esforça para manter o vinho vivo. Podem (?) ser proibidas intervenções técnicas que chegam a alterar a vida bacteriana do vinho, bem como qualquer adição de produtos químicos, exceto, se necessário, sulfitos em quantidades extremamente pequenas. As doses toleradas são de 30 mg/litro para tintos e 40 mg/litro para brancos contra 160 mg/litro para os vinhos tintos tradicionais. Já para os brancos tradicionais a média é de 210 mg/litro mas é permitido chegar a até incríveis 400 mg/litro (haja dor de cabeça!)
Destaco em negrito alguns detalhes que criam mais dúvidas e deixam claro como o nível de desconhecimento da forma que a enologia moderna trata os vinhos, provoca resistências e algo de revolta.
Podem ser proibidas: Como podem. São ou não são?
Se necessário: Quem determina se é necessário ou não?
160 mg/l para os tintos e 210 para os brancos sendo permitido até 400 mg/litro: Usar limites máximos como quantidade utilizada habitualmente é tendencioso e desleal com O VINHO COMO UM TODO.
Vejamos outra:
“Vinhos naturais são aqueles vinhos feitos com o uso mínimo possível de produtos químicos, aditivos e procedimentos tecnológicos. Isso inclui pesticidas, bem como enxofre ou qualquer um dos quase 200 aditivos permitidos legalmente. E isso inclui muitas manipulações tecnológicas de vinho que achamos que apaga a individualidade do produto e o lugar que chamamos de o "terroir".”
Mínimo possível: Como assim, quem determina esse mínimo, o produtor?
Achamos que apaga.....: Achamos? Tem provas? Ou simplesmente acha?
Quando parece que tudo está perdido, acho um artigo da Revista Adega de 2019 que aborda o tema de forma muito ampla e explicativa incluindo o testemunho de profissionais respeitados e famosos.
Vejamos parte da matéria:
“O que são vinhos naturais?”
A controvérsia começa com a definição. Para os fundamentalistas, vinho natural é simplesmente o mosto da uva de vinhas orgânicas que fermentaram com leveduras naturais e sem intervenção de qualquer tipo. Enxofre é quase sempre banido e muitos produtores se opõem ao carvalho.
A Associação Francesa de Vinhos Naturais (AVN)se inspira em Jules Chauvet, um negociante de Beaujolais que morreu em 1989, lembrado por estabelecer uma visão de como fazer vinho o mais naturalmente possível. Mas a definição de vinho natural do grupo ainda está aberta para interpretações. Mesmo que a associação possa desencorajar o uso de enxofre, a exclusão dele não resume a vinificação natural. Em vez disso, a associação está mais interessada na ética global do vitivinicultor. Estamos preocupados com muito mais do que o cultivo orgânico das vinhas. Todos podem fazer isso com a terra e ainda assim podem ter com um produto químico na garrafa. Não fornecemos especificações exatas de como vinho natural deve ser feito, pois há muitas formas de criar um produto que é natural, e nossos vitivinicultores permanecem livres para cometer erros e, no processo, talvez, criar algo verdadeiramente natural e espetacular".
Esta associação é tão “filosófica” que deixa em liberdade o produtor. Uso de enxofre, vinhedo orgânico? Dependem da “ética global do vitivinicultor”. Ou seja, o consumidor jamais saberá como realmente foi feito esse vinho.
Esta postura gera reações de desaprovação e vejamos algumas mostradas na matéria:
A Master of Wine, Isabelle Legeron, que dirige a RAW, uma das duas feiras de vinhos naturais que ocorreram em Londres em maio, está liderando os pedidos por uma forma mais codificada de fazer vinhos naturais. "Se o vinho natural quer se tornar um competidor sério, é preciso haver uma definição", ela argumenta - instando a Comissão Europeia a ajudar a formular e endossar algo.
Nicolas Joly, o guru biodinâmico que gerencia o Château de la Roche aux Moines, no Loire, compartilha das preocupações de Isabelle. Vinho natural "não tem definição legal" e não é, portanto, um termo que ele escolhe usar, diz. Joly prefere restringir seu vocabulário a "orgânico" ou "biodinâmico", práticas que precisam ir ao encontro de padrões acordados e que de uma certa garantia ao consumidor. "Com vinhos naturais, não há garantias e você pode encontrar todos os tipos de situações com esses vinhos, incluindo o uso, aqui e ali, de químicos ou herbicidas. Acho que a situação deveria ser clara na base legal - do contrário o consumidor está perdido".
Eu, faço eco das palavras de Nicolas Joly, VINHO NATURAL NÃO TEM DEFINIÇÃO LEGAL PORTANTO REPROVO O USO DESSE TERMO. ORGÂNICO SIM, NATURAL NÃO.
Parabéns pelo artigo!
ResponderExcluirWill, obrigado pela mensagem.
ResponderExcluirAdolfo, conhecedor dos mais variados vinhos, gostaria de fazer uma pergunta:
ResponderExcluir" Qual a sua percepção em relação ao vinhos armazenados em barris de ROOIBOS ao invés de barris de carvalho? Com essa substituição o controle da oxidação está sendo controlada sem a adição do dióxido de enxofre, pela região da África do Sul, pelo que eu entendi. És conhecedor dessa técnica?
Na loja em que eu trabalho tem os vinhos naturais do Eduardo Zenker. No contra rótulo constam como ingredientes: 100% fermentado de uvas. Nenhuma informação sobre sulfitos.
ResponderExcluirDiz que não foi clarificado tbm.
Será que estou vendendo vinho ou vinagre?