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segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Temos de manter o IBRAVIN




A desunião tem sido uma das características mais nocivas do setor de vinhos gaúchos.

E essa desunião levará a extinção de uma entidade que foi criada com muito esforço, justamente para unir o setor: o IBRAVIN.

Eu fui testemunha porque acompanhei os esforços que na época André Cirne Lima fez como representante do Governo Estadual para costurar um acordo entre as entidades, formatar o modelo e estudar a origem dos recursos.

Depois de muito tempo e discussões se chegou ao modelo de IBRAVIN atual com participação do Governo Estadual e das entidades representativas da uva e do vinho.

Criado como ente que atenderia as ansiedades do setor, o IBRAVIN andou sozinho durante anos porque o setor permitiu, e fez algumas coisas certas e alguma erradas. Infelizmente as erradas foram mais graves.

Agora, devido a problemas relacionados a gastos excessivos e alguns não devidamente comprovados, por pura má gestão, está na iminência de ser extinto e os recursos a ele destinados, transferidos a outra entidade: a UVIBRA.

É bom lembrar que a UVIBRA foi contrária a criação do IBRAVIN, então soa um pouco estranho que agora queira assumir suas funções e claro, receber os 12 milhões a ele destinados.

Entre as declarações absurdas de alguns dirigentes, a mais reveladora é aquela que afirma que os recursos de agora em diante, serão destinados a promover os vinhos gaúchos e não todos os vinhos brasileiros.

A justificativa é que esses recursos resultam de contribuições das cantinas do RS. O que não se esclareceu é que esses recursos resultam de uma RENÚNCIA FISCAL do Governo Estadual já que o valor que as cantinas pagam é posteriormente descontado do ICM a pagar.

Do bolso das cantinas não sai nada. É o Governo que sustenta.

Propor promover somente o vinho gaúcho demonstra a visão míope que predomina no setor.

Precisamos falar do VINHO BRASILEIRO, sem distinção de tipo ou origem e lutar para que o exemplo do Governo gaúcho seja seguido por SC, PR, SP, MG, BA, PE e outros estados que produzam uvas e vinhos.

Desta forma haverá recursos para promover uma grande, duradoura e consistente campanha de promoção e publicidade que tenha como objetivo aumentar o consumo, dos miseráveis 1,8 litros por habitante/ano para 3-4-5 ou quem sabe mais.

Os importadores teriam de se engajar também nesta campanha com recursos porque o crescimento de mercado interessa muito a eles.

O Brasil representa um dos poucos mercados do mundo com potencial para crescimento importante do consumo de vinhos e espumantes.

Os países tradicionais estão sofrendo constantes quedas de consumo.

O problema do IBRAVIN se resolve fácil, sanando as pendências, nomeando um administrador competente que gerencie a entidade, reduzindo sua estrutura de 24 para menos de 10 funcionários e dando como missão prioritária o incremento do consumo em todo o país.

O IBRAVIN sobrevirá se as principais lideranças do setor, especializadas em mercado, em exportação, em marketing, em produção se unem formando um Conselho ou um Grupo de Trabalho ou o que for para orientar e gerir seu destino.

O Governo Estadual pode ter a melhor das boas intensões, mas se conduz erradamente o tema e extingue o IBRAVIN, ainda que temporariamente, data um tiro mortal no futuro da vitivinicultura brasileira.

Ele tem de continuar, com nova cara, com nova estrutura, com novos objetivos, bem administrado, transparente. Mas sendo apoiado por todos, sem ataques, sem estrelismos.

A participação dos vinhos nacionais no mercado não para de cair e o Acordo Mercosul / União Europeia virá, mais cedo ou mais tarde.

Não há outra solução que não seja aumentar o consumo, ganhando novos adeptos, incorporando o vinho aos hábitos gastronômicos, levando o consumo diário moderado aos lares, criando a cultura que passara de geração para geração como nos países tradicionais.

O lutamos todos juntos para construirmos nosso futuro, ou nos lamentaremos, com certeza mais tarde.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Breve histórico da evolução dos espumantes no Brasil – (Que eu vivi)





Todos conhecemos a origem do vinho de Champagne e sua evolução até nossos dias, passados quatrocentos anos. Hoje, com justiça, é considerado um dos vinhos mais emblemáticos e desejados do mundo.

No Brasil, a história é bem mais curta, somente algo mais de cem anos, mas não por isso menos interessante.

Vou me permitir relacionar as pessoas, os produtos e os acontecimentos que ao longo deste tempo, permitiram que os espumantes brasileiros ganhassem o prestígio que eles tem atualmente junto ao mercado consumidor. Representar quase 80% das vendas totais anuais, é uma clara demonstração desta afirmação.

Armando Peterlongo:

Foi indiscutivelmente o pioneiro que no ano de 1913 começou em Garibaldi a produzir espumantes pelo método tradicional. Com sua tenacidade e empreendedorismo, transformou a marca Peterlongo, em sinónimo de “champagne” como era chamado na época.
Ganhou prestigio, frequentou as mesas do Itamaraty e da sociedade brasileira. Garibaldi ganho fama como a cidade do champagne.

Georges Aubert:

Em 1951 chega à cidade esta empresa francesa disposta a produzir espumantes de qualidade pelo método charmat.
Em poucos anos, e tendo no comando Gilbert Troier, os espumantes Georges Aubert dividem a liderança com Peterlongo e contribui para a fama também da cidade.

De Gréville:

Em 1973 chega à Garibaldi a famosa Martini e Rossi, que na época tinha uma excelente rede de distribuição através da qual transformou o vinho Château Duvalier, no mais vendido a até hoje não superado como marca individualmente.

Em 74 vendia 1.200.000 cxs de 6 unidades. O Presidente na época, o saudoso Francesco Reti, um home visionário e conhecedor do mercado brasileiro como poucos, decidiu fazer instalações para produzir espumantes.

Eu tive o privilégio de ser escolhido em Mendoza em fins de 1972 para assumir o controle dos engarrafamentos do vinho em Caxias, e das obras de construção da cantina em Garibaldi.
Atuou como consultor o Sr. Silvain De Sournac, enólogo da vinícola Cazanove de Champagne.

O champagne De Gréville, apesar de ser elaborado pelo método Charmat, seguia a técnica de champagne e lançou o estilo de espumantes mais maturados.

De imediato, pela qualidade e pela distribuição, De Gréville ganhou destaque e mercado dentro do seguimento de espumantes premium.

Chandon:

Em 1976 chega também a Garibaldi, a empresa PROVIFIN, Produtora de Vinhos Finos, formada pela associação entre a Cinzano, que aportou sua rede de distribuição, a Monteiro Aranha que aportou recursos e a Chandon francesa que aportou o nome e os recursos técnicos.

O Diretor Técnico da Chandon da França, Philippe Culon trouxe do Chile o enólogo Mário Geisse que comandou durante anos esta vinícola que veio para reforçar a oferta de espumantes de qualidade.

Mario posteriormente sairia da Chandon para criar sua própria produtora e também contribuiria substancialmente para consolidar a imagem do RS como produtor de espumantes de qualidade.

O grande mérito da Chandon, além de ter contribuído para a imagem dos espumantes brasileiros junto ao mercado consumidor, foi ter substituído o nome champagne por espumante.
A denominação espumante oferecia resistência das cantinas porque era associado a sidras e espumantes de menor qualidade.

Com a chancela da Chandon o mercado aceitou esta denominação e os produtores o adotaram definitivamente. Brasil começava finalmente a respeitar as denominações de origem que não lhe pertenciam. Foi um grande passo.

Angelo Salton:

Assim como as empresas internacionais contribuíram com recursos investidos em mídia, com a distribuição a nível nacional e com modernas tecnologias de produção, Angelo Salton contribuiu, com seu entusiasmo e esforço, na expansão a oferta do mercado de espumantes brasileiros.

A vinícola Salton produzia na época vinhos finos nos quais concentrava seus esforços. Angelo muda o foco para a produção e comercialização de espumantes e assume pessoalmente o desafio de crescer substancialmente neste seguimento. Foi, como Francesco Reti da Martini em 1973, um visionário e o tempo demonstrou quanto estavam corretos.

Angelo iniciou seu incansável trabalho no estado de São Paulo onde morava e teve tanto êxito que a marca Salton se transformou em líder de mercado. Esta liderança não foi casual nem passageira.

Até hoje, Salton é líder de mercado na comercialização de espumantes e possui uma das mais modernas instalações de produção de espumantes pelo método Charmat.

Valduga:

Esta vinícola, dirigida pela admirável dupla João e Juarez Valduga, teve sempre como foco central a produção de vinhos. Desde os anos noventa produzem vinhos finos de qualidade e investem fortemente no eno-turismo.

A esse respeito é justo ressaltar que Juarez Valduga foi um dos idealizadores do Vale dos Vinhedos e muito do sucesso atual é devido a ele. Sem dúvida, outro visionário.

Com o tempo acrescentaram vinhos produzidos em outros países e reforçaram sua atenção nos espumantes. Quando a Domecq decide sair do Brasil e encerrar suas atividades em suas belas instalações em Garibaldi, a Valduga as adquire e cria uma vinícola, a Domno do Brasil onde produziria espumantes pelo método charmat.
Com a marca Nero ganha mercado rapidamente e contribui com seu esforço, para o aumento de consumo de espumante no Brasil.

Considero a Valduga uma das empresas vitivinícolas mais lúcidas do Rio Grande do Sul.

Há poucos anos, percebendo o avanço das cervejas artesanais, cria e lança a cerveja Leopoldina para entrar num mercado conhecidamente promissor.

Cooperativa Aurora:

Esta empresa é um exemplo de organização e dinamismo. Há poucos casos no mundo de uma cooperativa vinícola com tamanh
o sucesso.

Aurora, além de participar ativamente do mercado de espumantes, possui uma das instalações mais modernas para produzi-los pelo método charmat.
Aurora, assim como a Cooperativa Garibaldi, oferecem serviços de elaboração de espumantes (eu faço aí meus charmat) a vinícolas pequenas e possibilitam que estas possam participar do mercado. O investimento necessário para uma boa instalação é extremamente elevado e inviável para quem produz menos de 100 mil garrafas anuais.

Prosecco:

Este espumante da região do Veneto, na Itália, entrou muito forte no mercado brasileiro, em especial no estado de São Paulo e também contribuiu para o aumento de consumo. O nome, muito apropriado, se tornou sinônimo de espumante e até hoje alguns consumidores os confundem.

Este artigo não tem nenhuma pretensão de ser completo já que com certeza muitas pessoas, empresas e produtos mais também ajudaram a divulgar o espumante e fomentar o consumo.

Me desculpem por ter resumido nestes que citei.

É mais um relato do que vivenciei desde minha chegada ao Brasil em janeiro de 1973.

Aproveito para homenagear todos e agradecer pelo esforço.

Quero encerrar dizendo que tenho certeza que poucos produtos derivados da uva e do vinho, tem um futuro tão promissor como o espumante.

TIM TIM