segunda-feira, 6 de abril de 2015

Os novos vinhos


Graças aos vínculos com técnicos europeus durante minha permanência na Martini e Rossi tive conhecimento do surgimento dos “vinhos orgânicos” na década de oitenta.

O Brasil não tinha a mínima ideia do que era isso.
Me recordo que sempre que surgia este tema todos esclareciam que a expressão “vinho orgânico” era mal aplicada porque a rigor o vinho orgânico não existia.
O verdadeiro nome era “Vinho de agricultura orgânica” e assim eram denominados em seus rótulos. A argumentação era que havia regras e fiscalização para comprovar que nos vinhedos não eram utilizados defensivos químicos mas que isto não acontecia nas cantinas.

Passaram-se algumas décadas e o tema chega com força redobrada ao Brasil e colabora para a constante renovação do mercado de vinhos. Isto ajuda a impulsionar vendas, destacar o vinho na mídia, chamar a atenção.

Mas, a meu ver, exige cuidados redobrados dos que estão envolvidos nesta nova modalidade para evitar perda de credibilidade pelo abuso e descontrole.

Em primeiro lugar é importante defini-los claramente. Definir quais são as regras vigentes para a produção de suas uvas e quais são as regras para a vinificação.

Na produção de uvas parece estar bastante claro mas na vinificação não.
O uso de anidrido sulforoso, principal bandeira, é permitido ou não?
Estes vinhos têm de ter absoluta ausência deste conservante ou é permitida uma pequena quantidade? Se for pequena, quanto é o máximo?

Se for proibido o uso de anidrido, quem comprova que inexiste nos vinhos? Existe algum órgão credenciado e independente que ateste esta situação?

Se o uso é permitido, ainda que limitado a baixas quantidades, os vinhos se encaixam na Lei Brasileira de Vinhos que estabelece os teores máximos.

E sendo assim, qual a diferença com os vinhos “normais, não orgânicos”. Os produtores sérios (e acreditem, são maioria!) utilizam baixos teores de anidrido por uma questão de princípios.

Produtores que elaboram uvas sadias com equipamentos modernos e higiênicos e mantêm seus estabelecimentos limpos e bem cuidados, não precisam utilizar quantidades importantes de anidrido. Não é necessário!

Confesso que como produtor de vinhos e espumantes me incomoda um pouco ouvir de alguns exaltados frases a respeito destes produtos do tipo: “vinhos sinceros”, “vinhos naturais”, “vinhos verdadeiros”, etc.

Nossos vinhos, os que elaboro eu, os que elabora Eduardo Anghebem, os que elaboram centenas de enólogos dedicados e sérios, não são naturais, são artificiais? Não são sinceros, são falsos? Não são verdadeiros?

Temos de ter cuidado para não repetir mais uma vez a velha e odiosa formula utilizada as vezes quando aparecem novas uvas ou novas regiões: somos os melhores, finalmente surge o verdadeiro vinho, a uva maravilhosa, a nova Califórnia, a variedade “vocação”, etc.etc.

Na grande maioria das vezes estas afirmações são feitas antes da terceira folha.

Vamos tomar cuidado, vamos devagar, falemos menos e ouçamos mais o que o vinho tem a disser. O tempo é o melhor aliado das coisas verdadeiras.

4 comentários:

  1. Oi Mestre!
    O termo natural me soa estranho também. Para mim, todo vinho é natural e não feito de algo que imita a uva. Gosto mais do modelo biodinâmico.
    Eu acho difícil que não ocorra a utilização do anidrido. Mesmo que em quantidades mínimas, também acredito que seja necessário,
    Abraços
    Ju

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  2. Obrigado pelo comentário querida amiga.

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  3. Ótimo texto, expressa tudo que sempre debato a respeito das quantidades de enxofre em vinhos bios, naturebas e organicos. La fora para se enquadrar no perfil de orgânico, biodinâmico e ou natural existe uma certificação certo?
    Quem no Brasil faz essa certificação, esses vinhos que andam por ai são certificados com esses selos?? para que possam ser chamados e ou considerados Bio, orgânico e natural?

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  4. Caro Enodoctor: Exatamente isso é o que questiono. Sem certificação não há como manter credibilidade por muito tempo. Acho que ainda há bastante amadorismo. Obrigado por participar do blog.

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