domingo, 22 de fevereiro de 2015

Nossa situação




O quadro acima mostra a evolução da comercialização de vinhos e derivados nos últimos anos.

A situação é que do total de vinhos e espumantes de 244 milhões de litros, somente 15% é de finos e espumantes.

Ou seja a importância das uvas viníferas é ainda insignificante, estamos muito dependentes das uva americanas, nem pensar em abandona-las sem um plano alternativo que garanta trabalho e sustento para as dezenas de milhares de famílias que vivem da viticultura no RS.

Não devemos condenar os que bebem estes vinhos comuns que de tão carregados de açúcar desvirtuam o conceito de vinho.

Devemos oferecer a ele vinhos feitos de uvas viníferas de alto rendimento e cor com preços atrativos, agradáveis, de ser possível secos.

A queda constante na venda de vinhos de americanas parece mostrar que o mercado para este tipo possa estar estagnado ou em queda. Imagino que os produtores destes vinhos sabem a razão desta diminuição.

Penso que não precisamos de medidas drásticas (que vão agradar os entendidos) como a erradicação das uvas americanas já que os números mostram a fantástica evolução do suco de uva, único na sua espécie justamente por ser de uvas americanas. Este poderá ser um destino destas uvas.

O aumento do consumo do suco de uva é constante e promissor e será importante impedir o oportunismo que poderá levar a fazer bobagens oferecendo produtos de baixa qualidade buscando o baixo preço.

O quadro mostrado indica que tem muito a fazer e que as alternativas estão se oferecendo.

Nada poderá ser feito pensando em milagres de curto prazo. O horizonte é largo e limpo, mas está distante.

Com boas medidas poderemos encurtar a distancia. Mantendo a atitude atual, de indiferença e desunião, o horizonte será sempre horizonte.

2 comentários:

  1. Sr Adolfo Lona,

    Muito bom artigo. Como amante dos vinhos nacionais gostaria de mais uma vez fazer algumas considerações.
    O caminho para que o vinho nacional volte a ser largamente consumido passa por ações a serem feitas mais junto os consumidores.
    Sou da época em que o vinho não era caro (ou será que eu ganhava muito?). Acontece que o vinho era uma bebida para pobres e ricos indistintamente. Tomava vinhos nacionais muito bons e sem aqueles artifícios de marketing. Marcas que não esqueci, o bom e barato Granja União, o Marjolet, o chateau Dargent, os Dall Pizzol, o Clos de Nobles, o Baron de Lantier, os primeiros Forestier, os primeiros Almadens e os vinhos da Adega Medieval de Viamão entre outros.
    Muitos desses vinhos ainda existem com esses nomes mas apenas um ou outro ainda mantém a qualidade.
    E também gosto de citar uma vinícola argentina que era considerada a preferida dos brasileiros. Falo da vinícola Lopez com seus Chateau Montchenot, Rincon Famoso e Chateau Vieux. Eram vinhos envelhecidos em garrafa e mesmo assim de preços acessíveis mas que sumiram do mercado brasileiro porque agora não se valorizam vinhos mais velhos feitos com todo cuidado e ainda por cima de preço razoável. O que se vende são vinhos mais adequados ao gosto imposto ao mercado.
    De repente o marketing começou a “ensinar” que nossos vinhos não eram bons assim como os sul americanos até que surgiram os “winemarkers” para por ordem na casa ou seja ensinar principalmente os argentinos e chilenos a fazerem vinho. Os vinhos deles eram muito baratos no mercado internacional e isso incomodava. E assim passaram a produzir vinhos alcoólicos com nomes pomposos, carimbos tais como “reserva de família”, “top da vinícola” "reserva do enólogo" e o importante mais caros.
    Por aqui o vinho foi se intelectualizando, passou a ser cada vez mais produto para “entendidos”.
    Quantas vezes ouvi afirmações como “preciso aprender a gostar de vinho, você que bebe vinho conhece algum curso bom?” E aí foram surgindo os vinhos pontuados com gostos e aromas de coisas exóticas para nós. Mas não importava não conhecer todo esse exotismo, os cursos ensinavam até mesmo a cheirar e fazer as analogias.
    E assim o vinho foi se tornando coisa de nobres e surgiu o fenômeno. Passando o vinho a ser um produto de status começou a ser mais consumido por pessoas digamos “mais ricas” e o interessante é quanto mais as pessoas ascendem socialmente elas ficam mais susceptíveis ao marketing de fora e têm a tendência de menosprezarem tudo o que é brasileiro. Com isso uma pessoa tem vergonha de pedir um bom vinho nacional na frente de amigos e se gostar mesmo dos nacionais toma em casa escondido como se fosse algo proibido.
    Afinal a imprensa especializada, os críticos famosos menosprezam nosso vinho.
    Minha caixa de e-mails está repleta de spams me oferecendo vinhos RP 92, 93 com 50 % de desconto (me desculpem, o correto é off). Tenho vontade de responder perguntando:
    “Quem disse para vocês que eu tenho o mesmo gosto que o Robert Parker? E se ele gosta tanto desse vinho por que não oferecer para ele? Aposto que ele vai adorar comprar esses vinhos com esses descontos fabulosos”.
    E eu me dou o direito de perguntar: se as importadoras falam tanto que o vinho está caro por causa do tal custo Brasil como é que podem fazer descontos que chegam a mais de 50%? Vão devolver os impostos?
    Para mudarmos o panorama do consumo de vinho nacional precisamos ter um trabalho junto ao consumidor e o melhor seria nos direcionarmos para um público não tão sofisticado e tão sujeito a modismos.

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  2. Meu caro Aurélio: Sua mensagem é perfeita e concordo 100% de todo o que você escreveu. Infelizmente é isso que está acontecendo e penso que será difícil mudar esta situação. Trata-se de um problema cultural associado a erros de postura de uma boa parte do setor produtivo.
    Mistificar o vinho é uma boa forma de afasta-lo das pessoas. Obrigado pela participação. Grande abraço

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