quarta-feira, 29 de maio de 2013

A Serra Gaúcha que eu conheci – 10



CURSOS DE DEGUSTAÇÃO

Os cursos de degustação iniciados despretensiosamente em junho de 1988 na De Lantier de Garibaldi, foram uma constante ferramenta de aprendizado para mim. Conviver com as dúvidas e anseios das pessoas que desejavam se aproximar do vinho, temerosas em não conseguir decifrar os mistérios e tabus criados em torno dele, me ajudaram a desenvolver uma didática baseada na simplicidade e desmistificação.

As regras complicadas criadas pelos próprios produtores que estabelecem que para apreciar um vinho precisa-se de um copo especial, prato adequado, temperatura certa, abertura antecipada, ambiente de acordo, adega climatizada e luz moderada servem para afugentar as pessoas. Como juntar todas as variáveis sem gafes? Quanto custa, onde encontro? Não é mais simples abrir “uma brahma”?

Este mundo complicado do vinho afugenta uns e encoraja outros que ao memorizar alguns procedimentos mais sofisticados, se transformam no que conhecemos como “enochatos”.
Insuportáveis. Conheci centenas de enochatos. Alguns, consegui converter em pessoas normais, outros abandonei a sua própria sorte.

O objetivo desde o primeiro curso foi não ensinar as pessoas o vinho que deveriam gostar mas dar ferramentas para que entendessem porque gostava de um determinado vinho.

Os cursos eram dados em dois dias, sexta e sábado.
Na sexta a partir das 19:30 hs começava abordando conceitos rápidos sobre viticultura, elaboração de vinhos brancos e tintos e eram degustados cinco vinhos brancos e cinco tintos na chamada “degustação didática” onde as pessoas sabiam o que estavam provando.
Nos brancos o objetivo era ensinar os diferentes tipos e estilos por isso servíamos um Chardonnay novo e um maturado, um vinho demi-sec, um Sauvignon Blanc e um Moscatel (aromático).
Os tintos servidos eram um Cabernet Sauvignon novo, um maturado em carvalho, um envelhecido, um Cabernet Fran e um Merlot.

Nessa noite já anunciávamos que no dia seguinte seria feita a degustação competitiva que consistia em tentar descobrir que vinhos eram os três que deviam apreciar “às cegas”.

Os comentários eram engraçados e diversos, desde quem se declarava totalmente incapaz de “adivinhar” até aquele que com absoluta segurança afirmava que “para ele isso era fichinha”. Geralmente estes eram os que tentavam dar explicações à esposa no sábado. Ela acertara mais do que ele.

Na degustação didática o empenho era total no sentido de fazer com que os participantes entendessem a importância da atenção e da memória associativa. Os aromas de maça verde no Chardonnay, de pêssego e maracujá no Sauvignon blanc, de pimentão verde no Cabernet Sauvignon do ano e de baunilha no vinho maturado em carvalho, eram fundamentais para fixar conceitos e criar o arquivo sensorial que os acompanharia pelo resto da vida.

No sábado o conteúdo era mais leve abordando a situação da vitivinicultura no mundo, o mercado brasileiro de vinhos e o serviço do vinho e do espumante.
O serviço se prestava a cenas engraçadas ao explicar os diferentes tipos de saca-rolha, a decantação do vinho, a adega, etc.
Finalmente era feita a degustação competitiva que encerrava os trabalhos com entrega de prêmios, diplomas,etc. Na sexta o encerramento era com um jantar e no sábado com um almoço se encerrava ao acabar o vinho.

O mais fantástico desta experiência era mostrar ás pessoas sua capacidade de sentir, de perceber características organolépticas, de raciocinar a partir delas, em fim, de comprovar como o “mundo misterioso do vinho” era simples, estava ao alcance de todos, era possível entende-lo.

Para os enochatos e aqueles que se achavam entendidos, o curso era uma bela lição de humildade porque percebiam que a forma mais efetiva de parar no tempo é achar que já sabe tudo.

O êxito dos cursos foi tamanho que apesar de ter construído uma sala especial com todos os recursos, inclusive piso térmico, que comportava 80 pessoas bem acomodadas, chegamos a ter lista de espera de mais de trezentas pessoas.

Um comentário:

  1. Me lembro como se fosse hoje, meu 1º dia na BMB foi um "curso de vinhos", no hotel Hilton,com direito ao seu livro,para toda equipe de vendas. bons tempos!!!!!

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