segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Jovens e envelhecidos


A queda dos preços dos vinhos como resultado da feroz concorrência, fez com que de uns anos para cá a oferta de tintos, tanto nacionais como importados de preços mais convidativos, se caracterize por ser de safras recentes, com um ou dois anos e raramente com mais disso. As cantinas precisam escoar seus estoques mais rapidamente para diminuir custos financeiros e a saída e vender os vinhos logo após elaborados.
Que os vinhos jovens são muito agradáveis ninguém tem dúvida, mas é uma pena que tenha ficado para o consumidor a tarefa de comprovar a veracidade do velho ditado que diz que “quanto mais velho, melhor” guardando vinho em casa ou garimpando demoradamente em todo tipo de loja.
Se nos vinhos jovens encantam os aromas frutados, frescos e o sabor vinoso e pouco tânico, nos vinhos mais maduros e envelhecidos o tempo proporciona sabores marcantes e aromas mais complexos, elegantes, os que constituem o verdadeiro bouquet. Os vinhos “guardados” em boas condições de temperatura e ao total abrigo da luz por um ou dois anos na garrafa, ganham uma enorme riqueza em suas características. É difícil esquecer um vinho envelhecido, que conseguiu desafiar o tempo, que foi pacientemente aguardado.
É possível envelhecer vinhos na adega caseira e ser bem sucedido transformando-se num segundo enólogo? Sim desde que observadas algumas condições lembrando que, se a compra de vinho é um ato de risco, guardar-lo exige ter superado com êxito esta primeira fase. Não todos os vinhos possuem a capacidade de melhorarem com o passar do tempo. Os vinificados com pouco contato com as cascas não possuem estrutura e perdem o frescor e leveza sem ganhar a complexidade que toda guarda proporciona.
Escolha do vinho: Procure vinhos de variedades que proporcionam mais estrutura e corpo como Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec, Tannat evitando Gamay e Pinot Noir em especial se são brasileiros. Os vinhos maturados em carvalho nos quais a madeira está evidente, ganham boa complexidade quando envelhecidos desde que encorpados. Escolha vinhos de pelo menos dois anos, de cor intensa, escura, robustos. Como dizemos acima, os vinhos ligeiros, de cor pouco intensa, muito transparentes, são ideais para consumi-los logo, não ganham com o tempo. Como achar estes vinhos? Garimpando, garimpando.
Condições de guarda: Respeitar as condições de luz e temperatura é fundamental e pode ser determinante. Devem estar armazenados ao total abrigo da luz e a temperatura constante (no mais de 3ºC de variação) e baixa, próxima dos 16ºC. As variações acentuadas e as temperaturas altas aceleram o envelhecimento e não contribuem. O envelhecimento tem de ser lento e gradual.
Tempo: É uma variável impossível de estabelecer antecipadamente. O segredo é ir acompanhando periodicamente a evolução e entender que poucos meses não provocam grandes mudanças nos vinhos. A recomendação para realizar este trabalho prazeroso de forma exitosa é, após escolher o vinho, guardar pelo menos seis garrafas e abrir uma a cada 3 ou 4 meses. Se o vinho for valente o tempo passará mais lentamente, evolucionará bem e cada nova garrafa será superior à anterior. Se a mudança for rápida porque o vinho não tem a estrutura esperada, não se desespere, acelere a velocidade de consumo porque não valerá a pena esperar.
Não fique se perguntando qual é o momento ideal porque poderão ser todos, a cada garrafa aberta. Não seja excessivamente duro ao julgar a evolução do vinho, mas fique atento para eventuais desvios.
O mais importante será desfrutar cada momento, ao final você decidiu ser o “segundo enólogo”.

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