sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Reputação


As regiões vitivinicolas demarcadas conhecidas na Itália, Espanha e Portugal pela sigla D.O.C e na França A.O.C. que significam Denominação de Origem Controlada, respondem ao seguinte fundamento: todos os produtos elaborados dentro de uma área geograficamente limitada, que sigam rigorosamente as regras determinadas por seus criadores, serão identificados com o nome da região ou outra determinada na criação.
Nos países citados existe um organismo oficial que regula a criação destas regiões evitando o uso indevido deste principio. Na Espanha por exemplo, se chama INDO - Instituto Nacional de Denominações de Origem. A criação das DOC é um fenômeno relativamente novo, a maioria do século vinte, e teve como principal objetivo o ordenamento da produção de uvas e vinhos e o aumento e reconhecimento da qualidade e tipicidade dos produtos oriundos das diferentes regiões.
França define assim o conceito de DOC:
É o nome famoso que um produto adquire por possuir características peculiares que o diferenciam dos demais e que resulta de:
- fatores naturais, como área de produção e variedade de uva
- fatores humanos como método de elaboração, destilação, etc.
Exemplos: BORDEAUX, BOURGOGNE, CHAMPAGNE, BEAUJOLAIS, COGNAC, RIOJA, CAVA, BAROLO, ASTI, DÃO, BAIRRADA,ETC.
A região que deseja criar uma DOC (que na maioria dos casos já passou por fases prévias como Indicação Geográfica de Procedência ou outras), cria uma identidade jurídica própria e um Conselho que determina as regras para o uso da denominação.
Área geograficamente limitada: Se o sentido é "produto que possui características próprias" é fundamental delimitar a área onde as condições de clima e solo o permitem.
Regras ou Regulamento: Determina rigorosamente as variedades permitidas (somente elas podem formar parte da composição dos vinhos), sistema de plantio, produção máxima permitida, sistemas de elaboração, prazos de maturação e envelhecimento quando houver, regras de rotulagem, infrações e penalidades, etc. Estas últimas são muito duras porque qualquer desvio de conduta prejudica o grupo. O nome da DOC é considerado patrimônio coletivo que agrega valor a todos os produtos comercializados sob essa identificação por isso, além das penalidades que são duras, o grupo faz questão de publicar, quem fraudou, como fraudou e como foi penalizado. As penas chegam a fechamento da cantina e prisão dos responsáveis.
Dito tudo isto, fica mais claro o motivo da noticia que chega da Europa relacionada ao escândalo da região de Toscana onde alguns produtores foram pegos utilizando uvas de outras regiões, com certeza mais baratas. Vamos a noticia:
Um escândalo está abalando a indústria de vinho da Itália. Investigação da polícia revelou que produtores da bebida teriam engarrafado vinhos que continham mistura com uvas não autorizadas pelas suas denominações. O site Wine News publicou uma reportagem provando que pelo menos 10 milhões de litros de Chianti, Toscana IGT, Brunello di Montalcino e Rosso di Montalcino poderiam ter sido misturados a vinhos inferiores. Já estariam sob investigação das autoridades italianas 17 pessoas e 42 empresas produtoras, o que levou a investigação para outras regiões como Abruzzo, Trentino, Piemonte, Lombardia e Emilia-Romagna. A extensão do caso faz com que o crítico Jeremy Parzen, editor do blog Do Bianchi, venha a se referir ao novo escândalo como Chiantigate, em alusão ao famoso escândalo Watergate que derrubou o presidente americano Richard Nixon nos anos 70.
É um escândalo e tanto que esperamos sirva como exemplo para os espertinhos. Que as penas sejam duras, os nomes sejam revelados e os transgressores impedidos de por vida de participar do negócio da uva e do vinho. Será uma depuração necessária para preservar o duro, longo e sério trabalho realizado pelos vitivinicultores, não somente destas admiradas regiões da Itália, como de todo o mundo.

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