Estou iniciando o blog "VINHO SEM FRESCURAS" justamente porque estou cansado de tanta frescura quando o tema é vinho. Pretendo abordar todos os assuntos relacionados a esta bebida tão natural da forma mas simples possível. Participe enviando noticias, comentários, críticas ou elogios sobre vinhos, espumantes nacionais ou estrangeiros e até, se quiser, sobre algúm de meus espumantes ou vinho que elaboro na pequena e simpática cidade de Garibaldi no interior de Rio Grande do Sul.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017
O Bolo
O IBRAVIN acaba de publicar através de sua Assessoria de Imprensa os dados do desempenho do mercado brasileiro de vinhos e espumantes, nacionais e importados.
Os números novamente comprovam a inutilidade das ações que o setor faz na procura do melhor desempenho dos produtos nacionais. A meu ver o furo é mais embaixo.
A comercialização de vinhos finos, aqueles elaborados com uvas de origem europeia, cresceu 10,40% mas infelizmente foram os vinhos importados os que tiveram bom desempenho, crescendo 13,77% ante um recuo de 2,83% dos nacionais.
Com isso a participação dos importados no mercado total subiu de 80% para 82% deixando para os nacionais somente 18% do bolo. Se estava ruim, ficou pior.
A queda das vendas também atingiu o mercado de espumantes que crescia constantemente nas últimas décadas. Caiu 10,20% com diminuição parelha entre nacionais e importados.
As justificativas dadas pelos representantes do setor são bastante conhecidas, aumento de impostos, crise financeira que atinge as famílias, contrabando, seca, chuva, etc.etc.
A pergunta é: essas variáveis negativas prejudicam somente os produtos nacionais? Porque os importados crescem fantásticos 13,77% e os nacionais caem 2,83%?
Porque na disputa dos mesmos consumidores, os importados ainda estão melhor na foto.
Não adianta o setor ficar focado no lançamento de vinhos premium e super premium a preços injustificáveis.
Não adianta o setor ficar repetindo velhas ações sem resultados práticos.
Não adianta o setor ficar desunido, praticando marketing predatório, as grandes cantinas brigando com as pequenas, os produtores de vinhos orgânicos colocando em dúvida a “naturalidade” dos outros vinhos, um desmerecendo o trabalho do outro, etc.
Assim, até as cervejas artesanais se transformarão num concorrente direto.
Enquanto não houver aumento do mercado, crescimento de consumidores novos, foco no consumo caseiro, diário, capaz de mudar hábitos e tornar o Brasil, ou parte dele, num país verdadeiramente vitivinícola, nada mudará.
Enquanto não houver união entre produtores nacionais, importados e importadores em torno de uma ação forte focada no aumento do mercado, a situação ficará igual ou pior.
É necessário aumentar o tamanho do bolo, até porque tem farinha para isso. Somos 206 milhões de pessoas e o consumo é ridiculamente baixo. Cada brasileiro consome anualmente 0,52 litros de vinhos finos, 0,10 litros de espumante e 0,81 litros de vinhos comuns. Isto é inferior a China, Paraguai e a Cochinchina.
Insisto e continuarei insistindo: somente uma campanha nacional e duradoura possibilitará chamar a atenção dos brasileiros para os benefícios do consumo de vinho e espumantes.
Não oferecemos uma bebida alcoólica, oferecemos momentos, histórias, vivências, sentimentos, prazer.
O IBRAVIN tem recursos para fazer um Encontro diferente aos já realizados com formadores de opinião, supermercadistas, sommeliers, jornalistas e outros.
Um Encontro com produtores nacionais e estrangeiros, importadores, representantes dos governos estaduais e federais dos principais países produtores, e técnicos do setor, para achar mecanismos que permitam arrecadar fundos pesados para manter uma campanha longa e duradoura de divulgação da INSTITUIÇÃO VINHO.
Tenho absoluta certeza que os países que trazem seus produtos ao Brasil, sabem do potencial que existe para aumentar o mercado.
Sabem que o Brasil é um dos poucos países que oferece oportunidades de crescimento já que o resto do mundo está saturado.
Sabem que o brasileiro é curioso, aberto a novos produtos e isso não se encontra facilmente.
Há tanto o que falar, há tanto o que disser, há tanto o que fazer que ficamos angustiados com a paralisia do setor que procura motivos para justificar o mau desempenho.
É necessário mudar a postura reativa pela postura proativa e se convencer, que se não conseguimos aumentar o bolo, sobrarão as migalhas.