quinta-feira, 26 de abril de 2012

TOP FIVE

O melhor vinho é o que você gosta, gosto não se discute...se aprimora...

Estas são expressões que traduzem a carga de subjetividade que pode chegar a ter a degustação de um vinho ou espumante.
Já uma avaliação feita por expertos consegue ter mais objetividade por conta do conhecimento e experiência que eles possuem. Com isso conseguem deixar de lado preferências pessoais e julgam utilizando critérios qualitativos universais.

Por esta razão que fico muito orgulhoso do resultado do TOP FIVE do Encontro de Vinhos que aconteceu em São Paulo que colocou entre os melhores nosso espumantes Nature Rosé ORUS. É a primeira vez na história do evento que um produto brasileiro é escolhido para formar parte deste seleto grupo.

Ele é efetivamente diferente pela forma de elaboração no método tradicional (champenoise) com 12 meses de contato com as leveduras e 12 meses mínimos, de envelhecimento após degourgement ou separação das impurezas. Cada mês transcorrido é importante e faz parte da lenta evolução que torna o ORUS nesse produto de delicada cor, complexos e agradáveis aromas e sabor longo, amável e marcante. Poderá não gostar do ORUS mas com certeza não o esquecerá.

Este espumante de apenas seiscentas e poucas garrafas anuais resume quase quarenta maravilhosos anos de experiência enológica no Brasil.
Passam-me pela memória os anos setenta quando na Martini o foco era separar as verdadeiras uvas viníferas das falsas, ensinar a colher e carregar corretamente as uvas, a implantação de novas castas como Merlot e Cabernet Franc e a elaboração e lançamento do espumante De Gréviile, considerado o melhor do país por muitos anos.
Os anos oitenta quando iniciamos a introdução de Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e Chardonnay, dos problemas que enfrentavam – e descobrimos alguns anos depois - as mudas importadas sobre o porta-enxerto SO4, do inicio da elaboração do Baron de Lantier, o primeiro vinho maturado em barricas de carvalho – de verdade – e envelhecido na garrafa antes da liberação para o consumo, dos prêmios que ganhou.
Já nos anos noventa começa a grande desilusão quando Bacardi adquire a Martini mundialmente. A troca de cultura foi fatal para o futuro dos espumantes e vinhos na nova companhia. Apesar dos esforços feitos na Casa Vinícola De Lantier já no novo século, com o lançamento da Série Regionais quando elaboramos vinhos de diferentes terroir, Ametista e Planalto no norte do estado, Pinheiro Machado na Serra do Sudeste e na Serra Gaúcha, percebi que minha missão nessa empresa tinha chegado ao fim. Abandonando a cômoda situação de Diretor de Operações decidi iniciar minha carreira solo, criando minha pequena produtora familiar, artesanal.

As dificuldades são imensas, desde enfrentar a vergonhosa carga tributária que impede que cresçamos, a agressividade de alguns colegas que por incrível que pareça tem medo de pequeno, da total indiferença das entidades de classe que alem de não ajudar, atrapalham, do selo, da salvaguarda, etc, etc.

Apesar de tudo isto, nada consegue apagar a doce sensação de saber que fazemos o que gostamos e de que outros gostam do que fazemos.


Brindo com todos os que sempre acreditaram na qualidade de nossos espumantes.

sábado, 21 de abril de 2012

Enólogo


Enólogo
Francisco Oreglia, padre salesiano fundador da Escola de Enologia Don Bosco em Mendoza, Argentina, definia a enologia como a “Arte e a ciência da elaboração de vinhos”. Talvez, justamente por isso, por ser ciência e arte seja tão apaixonante. Ciência porque apesar de que a transformação da uva em vinho é um processo natural, é necessário conhecer em profundidade os fenômenos físicos, químicos e microbiológicos que acontecem no transcurso desta transformação. Arte porque o enólogo não fabrica o vinho, o elabora, o imagina, o modela, o aperfeiçoa, o espera.
O enólogo é um profissional especial porque, talvez como poucos, é desafiado todo o ano a elaborar com perfeição um produto a partir de uma matéria prima variável. O enólogo também é um profissional privilegiado porque apesar do desafio anual lida com um produto vivo, sensível aos bons tratos, implacável quando abandonado.
Muito se fala, com absoluta propriedade, que um bom vinho nasce no vinhedo e por isso o enólogo começa um novo ano a cada inicio do ciclo vegetativo, quando a videira acorda do sono profundo do repouso invernal e começa a se manifestar, primeiro “chorando” e logo a seguir mostrando os pequenos brotos que crescerão e produzirão o fruto que será entregue nas sabias mãos de quem a espera com ansiedade.
Em cada fase do ciclo quando a videira é vulnerável a diferentes variáveis, o enólogo acompanha com angustia que estas não ocasionem danos. Antes da colheita mantêm um olho nos preparativos da cantina e outro no céu, torcendo para que a estiagem ou as chuvas não sejam excessivas.
A época da colheita e elaboração é a mais esperada e desfrutada, porque é o momento no qual ele pode colocar em prática todo seu conhecimento técnico e sensibilidade. Cada recipiente seja pipa, tonel, barrica ou tanque de inoxidável exigirá sua atenção e cuidados. Os brancos com sua delicada leveza precisam ser protegidos sempre, são mais sensíveis às condições externas, mais vulneráveis. Os tintos jovens, inicialmente rústicos e potentes, ganham maciez na passagem do inverno e elegância na primavera. Os tintos de guarda nascem grosseiros, duros, selvagens, carregados de taninos, características essenciais de quem está preparado para desafiar o tempo. O enólogo acompanha este vinho, o conduz, o cuida, sente sua pausada respiração enquanto caminha na penumbra dos corredores das caves das barricas. Quando colocado na garrafa para completar sua fase final de envelhecimento, o enólogo acompanha com paciência, sem pressa a evolução comprovada em cada degustação.
Elaborar espumantes então é um duplo privilégio, na elaboração do vinho base e na tomada de espuma e maturação. Definir o assemblage que permitirá dar um estilo próprio ao espumante é um momento de decisão especial. É arte em todos os sentidos ter a capacidade de imaginar o resultado final, transcorridos dezoito, vinte e quatro meses. Acompanhar a evolução que ocorre no produto ao longo dos demorados meses de maturação e envelhecimento é o caminho através do qual o enólogo ganha a sabedoria própria da experiência.
Por tudo isto, quando esteja na frente de um vinho ou espumante de boa qualidade, que lhe agrade, o surpreenda, não seja injusto de pensar que é fruto do acaso. Por trás desse produto está o enólogo, o profissional que com paciência o idealizou, elaborou e modelou.
Ergo minha taça em homenagem a todos os enólogos do mundo, em especial dos brasileiros, que superando as dificuldades da grande variabilidade da matéria prima, conseguem elaborar vinhos e espumantes dignos e honestos.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Segunda e última resposta

Talvez seja pelo tipo de atividade que estimula o egocentrismo, o “meu vinho é melhor que o do outro”, ou outra razão, a verdade é que o setor da uva e do vinho gaúcho se caracteriza pela desunião. Nas últimas décadas, por conta da nefasta participação de alguns líderes que se achavam donos do setor, a vitivinicutura brasileira avançou pouco na direção da qualidade. As entidades de classe infelizmente nunca formaram um conjunto e estiveram mais focadas em resolver os problemas imediatos que focadas no futuro. Por isso que muitos de nós fizemos o que estava ao nosso alcance para criar uma entidade maior que sem interferências políticas ou pessoais lutasse pelo setor focada no futuro. E nasceu o Ibravin. Inicialmente totalmente desacreditado pelas mesmas lideranças que achavam ruim qualquer iniciativa que os tirasse do “poder”, depois sem recursos porque o Governo Estadual não cumpria a lei e agora com recursos, mas obsecionado em resolver os efeitos da crise pela qual passam os vinhos brasileiros, e não as causas.

O vinho brasileiro vive dias de angustia e preocupação, o espumante brasileiro vive dias de esplendor e confiança no futuro. Ou seja, o consumidor brasileiro não tem preconceito em relação ao produto nacional, simplesmente confia num e não confia noutro.

A imagem de um produto é a forma como ele é visto pelo consumidor sob duas variáveis: qualidade e preço. Acrescentaria, dentro de certos limites: de produto ruim não gosta nem o fabricante, preço muito baixo cria desconfiança. “Quando a esmola é grande até o santo desconfia” lembram?
O vinho brasileiro tem, como já tinha há pelo menos quarenta anos, um sério problema de imagem e resulta do não cumprimento, aos olhos dos consumisdores, das variáveis citadas. O Ibravin deveria ficar totalmente focado em resolvê-las e não em atacar quem não tem nada a ver com isso. O crescimento importante do mercado nos últimos anos foi devido aos vinhos importados e com certeza não teria acontecido se eles fossem impedidos de entrar. O crescimento teria sido bem mais tímido.

A qualidade de um vinho nasce na matéria prima, madura, sadia e nas boas práticas de elaboração que não contemplem excessos de intervencionismo. Os vinhos tintos, tipo predominante na preferência dos consumidores, são macios quando as uvas atingem um nível adequado de maturação. Sem ela, não maturam os taninos e o vinho é duro, verde, pouco amável, características contrárias ao que os apreciadores buscam. Imaginar que os vinhos argentinos e chilenos vendem porque são baratos é um ledo engano. Devido à maturação das uvas eles são fáceis de beber, agradáveis.

O Ibravin pode ser mais proativo na implantação das ações urgentes que o setor precisa para estimular a qualidade, que como disse é resultante de uvas maduras e práticas adequadas, fazendo mudanças imediatas na Lei de Vinhos e seu Regulamento:

- Para que a diferença entre vinhos de mesa e finos não se restrinja à espécie da uva.
- Para que se proíba a chaptalização na maior brevidade já que uma prática nefasta, não pelas poucas gramas de açúcares quer se acrescentam mas por ser um estímulo a elaborar com uvas verdes. Porque esperar, porque dar um prazo de cinco anos (como determina o decreto em aprovação) se basta um para fazer podas racionais e diminuir a produtividade?
- Para que o uso de expressões como Reserva, Grande Reserva, Premium e Ícone tenha regras e não seja fruto da capacidade criativa de cada produtor.
- Para que seja obrigatório declarar no rótulo quando há uso de chips.
- Para que se estabeleçam prazos de maturação e envelhecimento mínimos para os vinhos finos de qualidade.
- Muitas outras mudanças que seria extenso relaciona-las.

O Ibravin deveria destinar parte de seus recursos a apoiar as entidades representativas de pequenas regiões que buscam a auto regulamentação. Será através delas que a qualidade melhorará porque surgem da vontade de superação de seus participantes.

O Ibravin deveria apoiar os pequenos produtores porque são eles que promovem a cultura da uva e do vinho. Encantam o visitante, tem nome e sobrenome, tem profundo orgulho pelo que fazem, por suas uvas e seus vinhos. Será que uma nova região produtora é importante somente pelo grande vinhedo de uma cantina ou pelo número de pequenos produtores que a compõem? Exemplos recentes mostram que as grandes buscam o lucro rápido sem se importar na consolidação da cultura da uva e do vinho.

Deveria se preocupar mais em combater a sonegação e o contrabando com ferramentas adequadas e não criando um pequeno mostro que é o selo fiscal burocrático e feio.

Outra variável que compõe a imagem é o preço e este inicia no custo. O produto em si com todos os insumos tem custos razoáveis. O problema é a sufocante carga tributária que mais que dobra o custo do produto. Além de sufocante se paga antecipado.
O Ibravin deveria perder o sono tentando resolver este problema. E enquanto não dorme, pensar como negociar com a Argentina um preço de referência (sobre o qual se recolhem os impostos para internalizar) menos ridículo que os u$ 10,00-11,00 por caixa de 12 garrafas. Deveria ser pelo menos u$ 25,00. É muito fácil e barato para uma rede importar vinhos a esse preço e recolher os impostos sobre o resultado após a venda. Este vinho cria uma concorrência desleal que não contribui em nada para a saúde do mercado. Bons vinhos sim, lixo não,,,importado ou nacional.

Já afirmei e o faço novamente: sou contra barreiras sejam elas tarifárias ou não, salvaguardas, quotas ou medidas restritivas. Elas vão estimular a incompetência e os vinhos medíocres. Torço por medidas de apoio para pequenos e grandes, medidas corretivas dos desvios aos que o setor se acostumou, medidas urgentes que amenizem o enorme estrago feito nos últimos dias junto ao mercado consumidor.

Bato palmas ao excelente trabalho de divulgação e promoção que o Ibravin fez, faz e fará dos vinhos e espumantes. É o caminho desde que venha acompanhado pelas ações de estímulo à qualidade e redução de impostos detalhados acima.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Merecido descanso



Finalizada a colheita e satisfeita com o trabalho realizado, a videira inicia sua fase de preparação para o repouso invernal.
As temperaturas começam a descer provocando o estreitamento do caule e o amarelamento das folhas que logo os primeiros ventos levarão.
A figura acima é bem ilustrativa da mudança de aspecto, antes frondosa e verde, agora amarelada e rala. Parece uma planta em decadência quando na realidade é a fase do merecido descanso, do repouso durante o qual recuperará forças, acumulará energias para iniciar na entrada da primavera um novo ciclo vegetativo que tanto exige dela.
A videira é uma planta valente, porém sensível e delicada. Se for colocada num vaso na sala da casa, crescerá ocupando espaços infinitos, ao final, trata-se de uma trepadeira. Nesta condições reagirá como tal e seus frutos serão pequenos, ralos e escassos porque toda sua energia terá sido derivada para os galhos e folhas. Esta mesma planta manejada cuidando equilibrar as exigências da vegetação e dos frutos, dará uvas sadias, maduras, excelentes para elaborar bons vinhos.
A videira reage ao clima sofrendo com as chuvas e as secas exageradas, as solo se esforçando nos pobres e se cuidando nos excessivamente nutritivos, e ao excesso de carga pela incapacidade de atender demanda em demasia.
Agora é o momento de desvestir-se se livrando das folhas secas, aprofundar as raízes e entrar num profundo sono que esperamos seja longo e revigorante.
Precisamos de você “nova em folha”.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O Mundo dos Espumantes



Realizamos o Curso de Espumantes no último sábado 14 em nossa produtora em Garibaldi.
Grupo maravilhoso, alegre, descontraído e ávido de informações. Degustamos às cegas inicialmente 4 espumantes charmat, o Prosecco Aurora (que considero o melhor produzido no pais), o Brut Branco Adolfo Lona, o Demi aromático Adolfo Lona e o Moscatel (excelente!) Garibaldi. O intuito foi mostrar os diferentes tipos, suas características organolépticas, sua tipicidade, cada um com seu encanto.
A segunda degustação foi de espumantes elaborados pelo método tradicional. Veuve Clicquot, Codorniu, Brut e Nature Adolfo Lona. Muito didática mostrou a personalidade peculiar do Cava com suas uvas diferentes, o caráter do champagne, sóbrio, elegante, marcante e a boa qualidade que atingiu o espumante brasileiro.
Ao final, diplomas para serem pendurados na parede mais visível do escritório, sala de espera, etc e encerramento com um maravilhoso almoço coordenado pela cheff Tais Carolina Lona composto de Torta Porota como entrada, tortelloni com molho de nata e tomates secos e como prato principal frango grelhado com manteiga e batatas souté. Os espumantes para harmonizar em sequencia foram Brut charmat, Nature, Brut Rosé charmat e Demi aromático.
Estamos decidindo uma nova data que publicaremos em breve.
Aos participantes, obrigado pela presença!!!!

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Primeira resposta

O Brasil é um pais extremamente generoso, acolhe os estrangeiros de braços abertos, os trata bem, os faz sentirem-se em casa, não os descrimina.
Digo isto com absoluta convicção porque faz quase quarenta anos que vivo neste abençoado pais, tenho filhos, netos e negócios no Brasil e nunca ninguém me fez sentir estrangeiro.

Não serão comentários infelizes de duas pessoas que se autotitulam “defensoras da vitivinicultura brasileira” que vão mudar minha opinião. Porque é justamente esta imensa generosidade que possibilita que estes personagens permaneçam nos representando. Ante a falta de argumentos, o ignorante, que é o embrião do preconceituoso, apela, tenta desqualificar.
E isso tentaram fazer a Dra. Kelly Brusch e Carlos Paviani no Programa Conversas Cruzadas da TVCom ao disser que sou contra as salvaguardas porque sou argentino. À Dra. Kelly não conheço porque é um novo personagem representativo do setor agora mais famosa, mas a Carlos Paviani o conheço bem desde a época da criação do Ibravin. Foi Paviani que adquiriu o Jornal Bon Vivant que criei na década de noventa. Sempre tive por ele muito respeito e manifestei meu apoio ás medidas promocionais que o Ibravin faz do vinho nacional em meu blog repetidas vezes. Com ele em especial fiquei decepcionado porque mostrou uma fase de sua personalidade que desconhecia...e não gostei.

Cheguei ao Brasil em janeiro de 1973 quando havia duas uvas Riesling itálico, a verdadeira e a falsa, sendo que esta última era uma híbrida branca chamada Seyve Wiillard. A proporção de uma e de outra variava conforme a colheita.

A uva chegava às cantinas quase podre porque era transportada em “dornas”, recipientes tronco-cônicos de até 100 quilos, bem esmagada para entrar mais.

Não existiam Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay, Sauvignon Blanc e tantas outras que hoje produzem bem no RS.

Em junho de 1988, quando o Sr. Paviani provavelmente era um adolescente e a Dra. Kelli talvez não tivesse nascido, fizemos o primeiro curso de degustação de vinhos para leigos na cantina De Lantier em Garibaldi, com o intuito de expandir a cultura do vinho.

Quando lançamos o Baron de Lantier Cabernet Sauvignon 1987 em 1990 como forma de demonstrar o que a Serra Gaucha conseguiria fazer em termos de vinhos tintos de qualidade, ambos ainda desconheciam a diferença de um branco e um tinto.

Este primeiro artigo é para desabafar ante a intolerância e radicalismo que levará a vitivinicultura brasileira a perder tudo que fez nestes longos anos. A vitivinicultura de um pais se constrói lentamente, com seriedade, inteligência, conhecimento do tema, perseverança, estímulo aos produtores grandes que desovam produção, participam de todos os canais preenchendo espaços e aos pequenos que criam imagem, cativam os apreciadores, promovem as regiões com seus pequenos vinhedos e cantinas. Infelizmente está faltando ás “cabeças pensantes” muito do requerido acima e o que é pior, estão provocando uma ruptura talvez irrecuperável entre grandes e pequenos, quando um é parte do outro, se complementam.

Depois do que ouvi no programa, de pessoas que ao menos na aparência representam o setor, faço um apelo aos empresários da Serra que participaram do desenvolvimento do setor da uva e do vinho para que impeçam esta guerra inútil que não terminará bem. Colocar grandes contra pequenos até que é fácil, já sabemos como termina. Colocar o consumidor contra o vinho brasileiro é uma demonstração de arrogância inaceitável.

O CONSUMIDOR É A RAZÃO DA EXISTENCIA DE TODOS NÓS.

SEM ELE PARA QUE PERMANECER?


No próximo artigo vou expor com mais detalhes as razões pelas quais sou contra selo, salvaguarda, expressão brasileira em rótulos de vinho importado, etc. Contarei algumas verdades dos erros cometidos pelas lideranças nestas últimas décadas.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Concorrência estimulante ou predatória?


Crianza: Três meses em barricas de carvalho e três meses na garrafa.
Cor: Vermelho rubi intenso com tonalidades violáceas próprias de sua juventude, aspecto limpo e brilhante.
Aroma: Frutado, geleia de frutas vermelhas e especiarias como a pimenta em suave marco de baunilha aportada pelo carvalho.
Sabor: Se apresenta exuberante, com taninos presentes e maduros. De longo e complexo final.
Assim é descrito, previa tradução minha, o vinho Cabernet Sauvignon 2010 marca Aberdeen Angus produzido pela Finca Flichman de Mendoza e vendido a R$ 9,80 num supermercado de Porto Alegre.
Minha definição após demorada degustação desta joia da vitivinicultura argentina:
Carvalho nem em fotografia, meses de garrafa durante a viagem e na curta estadia na prateleira.
Cor: Vermelho pálido, mais para clarete que para tinto, sintoma indiscutível de duas possibilidades: mistura de branco com tinto ou uso da produtiva uva Criolla como matéria prima. Cabernet Sauvignon? Será que tem?.
Aroma: Neutro com um ligeiro cheiro de vinho, tímido, recatado. Pimenta e baunilha reinam pela sua ausência.
Sabor: Aguado, sem a mínima expressão, de tão curto, junta o inicio com o final.
Este vinho, que com certeza envergonharia o Sr. Flichman, mentor do famosíssimo Caballero de la Cepa é uma comprovação que confirma a sentença que fez o Presidente da OIV em sua visita na década de noventa: o Brasil é a lixeira da vitivinicultura mundial.
Fica um pouco mais claro a razão de seu preço inferior a R$ 10,00. A mistura de uma pequena parcela de vinho tinto de boa cor com vinho branco escorrido, é a fórmula utilizada para baixar os custos a níveis infames. As uvas brancas utilizadas nestes vinhos, assim como a Criolla Grande, produzem mais que 30 toneladas por hectare. Custo? Próximo de zero. Preço FOB baixo traz consigo a vantagem de detonar os impostos ad valorem como ICM e outros.
Ao provar este vinho me perguntei: É isto que queremos importar? Estes vinhos estimulam a concorrência desafiadora, provocante, ou a predadora, aquela que nivela por baixo? Quem se favorece com estes vinhos invadindo o mercado? O consumidor que aprende a beber isso? O importador que usa estes produtos para baixar preços e aumentar o giro? Ou a região produtora de origem que se livra desta porcaria?
A livre concorrência, sem impostos diferenciados, sem taxas, sem barreiras de qualquer tipo, é salutar e todos a defendemos com todas as forças. E a defendemos porque a concorrência é o motor do crescimento, todos querendo participar do mercado utilizando suas melhores armas: qualidade e preço justo.
Este vinho e muitos mais que se encontram nas prateleiras dos supermercados não oferecem nem qualidade nem preço justo, porque não valem nada. O crescimento brutal das importações em especial da Argentina e Chile é baseado neste tipo de vinho e nível de preço.
Quero chamar a atenção para a diferença de realidade entre os importadores que trazem produtos de qualidade, sérios, representativos das regiões de origem, e favorecem o consumidor alargando a oferta, e aqueles que estão pouco interessados no mercado futuro, são imediatistas, focam preço em detrimento da qualidade.
Será que vale a pena sacrificar tanto os produtores brasileiros? Será que é assim que provocamos o aumento da qualidade do vinho nacional, tão questionada as vezes ou a empurramos ladeira abaixo?
Eu não sei. Me ajudem a entender.